Admito que tenho muito calçado e admito que já fui completamente viciada em comprar sapatos. Admito que passei vários anos sem conseguir entrar numa sapataria e sair sem trazer nada. Admito que muitas vezes comprei o mesmo modelo em cores diferentes. Admito que cheguei a comprar sapatos que me apertavam apenas porque eram deslumbrantes. Admito que fiquei sem pele no calcanhar ou nos dedos porque alguns sapatos me aleijavam. Admito que, quando isso acontecia, não só não os mandava fora como continuava a usá-los porque eram giros e punham-me com bom aspecto. Admito que cheguei a ter um sentimento de culpa cada vez que comprava uns sapatos novos. Admito que me chamaram maluca e fanática. Admito que peguei a mania a outras pessoas. Admito isto tudo.
Porém também admito que a mania está em vias de passar. Há talvez um pouco mais de um ano que não sinto o apelo que sentia para entrar numa loja e comprar um ou dois pares de sapatos. Já não me acontece entrar numa sapataria com a desculpa de que vou só ver e sair de lá com três caixas debaixo do braço. Antes, entrava numa e gostava de quase tudo o que via. Agora vou a uma sapataria e raramente alguma coisa me desperta algum interesse. Agora, também, mais do que comprar porque são uns sapatos lindos, a minha aquisição segue a regra do conforto. Dou aulas de pé, caminhando pela sala e, por isso, não posso estar montada em dez ou doze centímetros de salto, por muito que isso faça umas pernas e uns pés bonitos.
Percebi que estava muito melhor deste vício quanto no Verão que agora acabou saí de uma sapataria de mãos a abanar depois de me ter apaixonado por umas baratas sandálias verdes. Experimentei-as, adorei-as, mas não as comprei porque acabei por dizer a mim própria «já tens tantas sandálias». E saí da loja sem ter gastado (sim, é assim que se diz: "ter gastado") os poucos euros que aquilo custava. Mais certezas tive quando, também durante este Verão, dei por mim a deitar fora sem pena calçado que já merecia uma ida para o caixote do lixo. Ou a dar um par de sandálias a alguém da família.
Apesar do que fica dito, hoje comprei dois pares de botas. Esta é a parte em que vocês gritam «Estás curada, estás». E eu digo: hoje comprei dois pares de botas sob pena de começar a andar descalça. Na semana que passou choveu, como devem ter notado. Todas as botas impermeáveis que tenho são altíssimas, muito desconfortáveis, e a sola é escorregadia. Em dias de chuva preciso de pés ágeis e não de andar constantemente a patinar no chão ou de enfiar o diabo dos saltos nos buracos da nossa odiada calçada portuguesa. Precisava, também, de uns botins pretos. Entre quinta-feira e hoje resolveram-se todos os meus problemas e a compra de botas para este Inverno está concluída (pelo menos estará concluída se, ao contrário do que aconteceu no ano passado, as botas adquiridas sobreviverem ao Inverno inteiro). Só torno a entrar numa sapataria lá para o próximo Verão. A menos, claro, que tenha uma recaída no vício, mas espero que não.
(Estas são umas pantufinhas: a borracha da sola diminui o impacto dos passos e não permite escorregadelas nos calhaus da calçada portuguesa. Além disso são muito quentinhas porque o forro é de lã. Mas o melhor de tudo é que nem chegaram aos vinte euros...)
(Embora a foto não permita perceber, estas são castanhas. São, também, muito confortáveis. Descobri-o porque saí da loja com elas calçadas. A sola é de borracha e, ao que parece, não escorrega nada. Além disso, são de salto em cunha, o que adooooro!)
(Adoro estes botins pretos, ainda que não possam sair à rua em dias de chuva. Gosto muito do aspecto deles e do facto de serem confortáveis à brava. Também são em cunha, como se quer, e a sola em borracha evita cenas ridículas em pavimentos escorradios e cobertos de folhas mortas. Só não trouxe em mais cores porque estou curada. Vêem?!)
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