Não sei se já aqui contei esta história, mas é daquelas de que me lembro de vez em quando e que me fazem rir. Há mais de dois anos tinha eu a tese de mestrado escrita e andava na fase de revisão e de caça à gralha. Havia escrito um dos meus resumos em Espanhol, mas não tinha encontrado ninguém que mo corrigisse. Ainda andei a ver se encontrava um antigo professor daquela disciplina pelos corredores da faculdade, mas o homem tinha desaparecido e não o encontrei. Ora, por aqueles dias trabalhava numa livraria. Numa bela tarde, entram dois senhores jovens a falarem em Espanhol um com o outro. Eu, bandida, penso «E se lhes pedisse uma ajudinha? O resumo é pequenino, como se quer...». Do pensar ao fazer foi um pulo: quando demos por nós, tínhamos feito do balcão uma mesa e estava um deles de lápis em punho a corrigir o Espanhol do meu trabalho. O amigo, português que também sabia Castelhano, dava uma ajuda porque o outro era colombiano e convinha que o meu texto fosse em Espanhol de Espanha...
A certa altura o rapaz que falava português pergunta-me se sei quem é o seu colega. Eu digo que não e ele aponta para um volume que eu tinha em destaque na livraria naquele momento. O livro intitulava-se A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa e um dos responsáveis por ele era Jerónimo Pizarro. Ora, era precisamente este o rapaz que estava a fazer-me o favor de corrigir o resumo da tese. Ele tem sido um estudioso da obra pessoana e é o responsável pela publicação de muitos títulos deste grande autor português, garantindo ainda que há muitos textos inéditos que verão a luz do dia. Este mês surge na capa da revista Ler e ao constatar isto não pude deixar de recordar aquele episódio caricato. Aproveito aqui, mesmo sabendo que o Jeronimo Pizarro provavelmente nunca se cruzará com este blogue, para agradecer a simpatica com que me ajudou. Agradeço também ao seu amigo, de quem nunca soube o nome. E já agora peço desculpa pela quantidade de tempo que os fiz esperar pelo troco...
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