Estava aqui a preparar as primeiras aulas do ano lectivo que começa para a semana quando me apercebi de um facto interessante. Este ano, ao contrário dos últimos seis anos, foi o primeiro em que não «fui de férias». Ou seja: pela primeira vez desde 2006, não marquei estadia em lado nenhum, não planeei uma viagem, não fui passear para longe de casa ou de qualquer casa da família (sim, saí durante uns dias, mas para visitar familiares). No fundo, não paguei para dormir em lado nenhum, não fiz uma viagem nem passei pelo nervozinho da véspera do passeio, não fiz malas para duas semanas. Nada disso. Este Verão foi o primeiro em muito tempo em que o plano era ficar em Lisboa, divertir-me por cá e não pensar em viagens longas nem em dias em sítios maravilhosos (ai Viana...). Isto não aconteceu devido à crise, mas sim porque esperava ser sujeita a uma cirurgia que não veio a verificar-se. Contudo, na dúvida, não pude marcar férias em lado nenhum.
Ora, por que me lembrei eu disto enquanto preparava o regresso ao trabalho? Por uma razão curiosa: é que pela primeira vez não estou com uma neura do tamanho do mundo por ter de regressar à vida de sempre. Minha gente, normalmente quando chego a Lisboa depois de umas férias de Verão fantásticas em algum lado, no dia seguinte ao meu regresso ninguém pode comigo. Melhor: nem eu posso comigo! Fico irritada, irritante, furiosa, carrancuda, maldisposta, danada. Então passam-se uns dias tão bons em sítios tão bonitos e depois regressa-se assim, de forma tão pouco gradual, à vida do costume, aos lugares feios de sempre, ao trânsito infernal e à esgotante rotina? É coisa que mata. Ora, parece-me que a cura para estes dias de neura reside precisamente no acto de nem sequer sair. Se me mantiver no sítio do costume, se a rotina só se alterar para um longo giboiar pelos sítios do costume, embora livre do trabalho e da rotina a que o mesmo obriga, a coisa corre bem e não viro um bicho na hora de regressar à labuta.
Claro que houve alturas durante o Verão, especialmente antes de chegar a altura em que normalmente viajava, em que me sentia claustrofóbica nesta Lisboa que me enerva até mais não. Porém, depois a coisa fez-se bem e folgo em saber que desta vez regresso ao trabalho sem parecer um ciclope em fúria e a escoicear para a direita e para a esquerda. Neste momento devem todos estar a pensar que estou louca e que a falta de viagens deste Verão me afectou o encéfalo. Pois até pode ser, mas a verdade é que estou descansadíssima, relaxadíssima e até bem disposta. Conclusão: as férias fora fazem mal.
Notinha: Não esperem é que isto se volte a repetir durante muitos Verões, que a pessoa também não é de ferro, sim?
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