No seguimento da quixotada anterior, fica o episódio vivido com uma senhora idosa que andava lá pela sapataria.
Estava eu sentada num banquinho a experimentar umas botas quando uma senhora de uns setenta anos se senta no banquinho à minha frente olhando fixamente os meus pés. Devido à insistência do olhar, acabo por mirá-la também. Ela diz:
- Essas botas que a menina aí tem são muito bonitas. Também queria umas botinhas em camurça.
Respondo-lhe sorrindo e apontando o salto das botas:
- Mas olhe que estas são altas.
- Ai assim não pode ser que a minha coluna já não aguenta. - diz a senhora, levantando-se do banquinho e preparando-se para ir embora com a amiga, talvez ainda mais velha do que a primeira.
Ao passar ao meu lado, a senhora diz-me
- A menina tem o pé tão pequenino. Um 35 ou um 36, não?
- É um 36. - disse-lhe. E acrescentei, sorrindo - Eu sou toda pequenina.
A senhora olha então muito séria para mim durante uns instantes e diz:
- Mas tem muita arrumação...
Ri-me. Porém, a senhora ainda não tinha terminado:
- ... Pelo menos a julgar pelo armário. - diz, apontando a zona das maminhas.
Bom, gentes, dei uma gargalhada na sapataria que ninguém faz ideia. Ter uma senhora de uns setenta anos a fazer reparos às minhas meninas é daquelas experiências que ficam para memória futura. Contudo, ainda faltava à senhora dizer mais uma pérola:
- Olhe, menina, uma mulher sem peito é como um jardim sem flores!
E dito isto, deseja-me bom dia e vai embora, enquanto eu fico a escangalhar-me de riso no banco da sapataria. É aí que a amiga dela, que ouviu tudo, se aproxima de mim e diz:
- Olhe que ela é sempre assim. Onde vai, põe toda a gente a rir.
Disse à senhora que ainda bem que assim era. Elas lá foram à vida delas e eu fiquei a pensar na questão da arrumação. Chegava a dar jeito que nas mulheres esta fosse uma prateleira funcional. Umas aproveita-la-iam para bibelôs e «naperons» de renda. A mim dar-me-ia jeito para a quantidade louca de livros à solta que por aqui vai andando.
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