sábado, 14 de novembro de 2015

Somos Paris

De todos os tempos que o mundo já teve, este é provavelmente o pior. É o mais cruel, o mais desumano, aquele em que se perdeu qualquer noção de humanidade para ganhar-se apenas a do terror, do sangue, da morte. Não é coisa só de hoje: começámos bem no século passado, dando ao mundo, num curto espaço de tempo, aquilo que centenas de anos não haviam dado. Duas guerras mundiais abriram as portas. Depois uma Guerra Fria. Depois vários conflitos, genocídios, porcarias e porcarias sem fim que nos foram desumanizando sempre mais um bocadinho... 

Até que chegamos aqui, ao dia de hoje, e assistimos ao fim da fraternidade, igualdade e liberdade na capital do país que deu esses valores ao mundo. Perdemos no século XXI aquilo por que tantos lutaram ao longo do tempo. Este é mesmo, para mim, o pior dos tempos. Como se vive chorando constantemente a morte de inocentes e de valores que deviam unir-nos, muito mais do que separar-nos? Como se vive sentindo diariamente o medo, a desconfiança relativamente ao outro? É um tempo horrível, de facto.

Vale o que vale, mas lamento profundamente as mortes que ocorreram em França e lamento que as vidas de muitos mudem assim, drasticamente. Em Janeiro todos fomos "Charlie"; hoje, e por terríveis, terríveis motivos, todos somos Paris.


2 comentários:

  1. Bem, parece mal num dia como o de hoje e depois do horror de ontem à noite, não concordar contigo. Mas felizmente isso não me parece nada verdade. Na idade média estar em guerra era um estado permanente, matava-se porque se roubava uma galinha ou porque te tinhas metido com a vizinha, porque não gostavam de ti, numa base diária. No império romano havia espetáculos em coliseu com a morte humana.
    Nunca se deu tanto valor à vida como hoje em dia na sociedade ocidental. Talvez por isso hoje estamos todos em choque, há muitos séculos atrás isto teria sido quase normal.

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    1. É verdade que ao longo da História aconteceram coisas inacreditáveis e que durante muito tempo a vida humana não foi nada prezada. Aliás: a vida de alguns, porque a de outros era bem tida em conta. Mas para mim, isso só faz com que estes nossos dias pareçam ainda mais assustadores. Se da Idade Média até aqui aprendemos tão pouco que achamos que abater aviões cheios de gente, explodirmo-nos a nós mesmos de modo a matar quem por ali se encontre, degolar gente em frente a uma câmera para assustar meio mundo, fazer ataques com drones que ora apanham gente que não presta, ora apanham inocentes, é normal então a nossa aprendizagem foi uma porcaria que de nada serve. Vivemos muito, desde então, achámos que as atrocidades da Segunda Guerra Mundial era o pior a que poderíamos assistir e que com isso havíamos aprendido o suficiente para não repetir... Bom, não aprendemos nada. E tal como dizia o Eça, caminhamos "alegremente" para um estado de coisas absolutamente assustador. Não matamos por uma galinha, mas voltámos a matar por um deus e isso eu pensava mesmo que havia ficado na Idade Média. E se antes a luta era corpo a corpo, agora é cobarde e em massa.

      Digo-o muitas vezes e mantenho: de todos os tempos em que poderia ter vivido, vim parar ao pior. Temos muitas coisas, podemos fazer coisas assombrosamente maravilhosas, mas vivemos num medo terrível. E porquê? Porque a vida humana vale muito pouco para muitos.

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