segunda-feira, 23 de março de 2020

Para o que estávamos guardados I

Realmente... Não passava por aqui por falta de tempo, de vontade, de inspiração... Parecia-me que já tinha dito tudo, feito todas as piadas e que já não tinha nada para vos dar. Bom, provavelmente continuo a não ter. Contudo, agora poupo o tempo das viagens para o trabalho já que estou a trabalhar a partir de casa há uma semana. Ou seja: há oito dias que não saio a não ser para ir à mercearia, à farmácia e para passear a Cão. Resultado: agora tenho mais um bocadinho para vir aqui delirar. 

Sim, porque isto está é para uma pessoa ensandecer. Acordo meia hora antes de me sentar diante das provas que tenho para rever, trato dos animais e faço questão de vestir uma roupinha que não o pijama. Ao menos isso! Tomo o pequeno-almoço já a trabalhar, faço uma pausita de meia hora para almoçar e sigo as leituras pela tarde fora. Aí pelo meio, ouço o noticiário, reviro os olhos cento e oitenta vezes e atiro a bola de ténis para a Cão ir buscar cerca de novecentas e trinta e oito. Ela agora aprendeu a tocar-me na perna quando me faço de esquecida por isso não há como escapar à bola babada. Entre as seis e as sete da tarde arrumo as minhas coisinhas (leia-se: deixo-as fora do alcance dos dentes caninos) e dou o dia de trabalho por terminado. Tudo somado e foram oito horinhas. Mas sem colegas, sem piadas, sem gargalhadas, sem pausas para café, sem tudo aquilo a que nos habituámos e que faz parte da nossa rotina.

Se ainda desse aulas, estaria neste momento a arrancar cabelos. Imagino a pilha de nervos que professores, pais e alunos devem estar a sentir sem saberem o que vai acontecer até ao final do ano e com as candidaturas ao superior (já para não falar dos Exames Nacionais que são a dor de cabeça mor). Imagino os professores a terem de imaginar aulas à distância que efectivamente ensinem alguma coisa, pensadas e concretizadas de um dia para o outro sem qualquer período experimental. E também os imagino super elegantes da cintura para cima, mas com as calças do pijama da cintura para baixo. Essa parte é hilariante, na verdade.

Certo é que por ora é esta a nossa realidade. Resguardar-nos e proteger aqueles de quem tanto gostamos e que são, cruelmente, os mais vulneráveis, os mais atacados por este vírus bizarro que veio transformar a nossa existência num mau filme de Hollywood. No fundo, temos de aprender a viver como gatos, tal como tanto temos visto por essas redes sociais fora. Lavar as mãos, comer, dormir, mexer um bocadinho e, ao contrário deles, trabalhar em casa para lhes continuar a pagar a ração. E o nosso papel higiénico.


(Na dúvida, o Simon’s Cat ensina a viver estes dias insanos de isolamento.)



(Lady Gatica tenta substituir os meus colegas de trabalho. Mas larga mais pêlo do que eles.)



(Mas por vezes tenta sobrepor-se ao próprio trabalho. 
A ração que o meu trabalho lhe paga não lhe deve fazer falta, parece-me...)




(E depois de um dia de trabalho, vou para a cozinha espairecer e fazer coisas que NUNCA faço: doces. 
Eis umas bolachas de coco e aveia feitas hoje. Eu estava a fazer dieta, sabiam?)



(Na porta do frigorífico tenho um calendário onde vou riscando os dias de isolamento. 
Ainda não risquei o de domingo e o de hoje, mas amanhã trato disso. Sou capaz de ter tempo que chegue.)



(A foto é péssima, mas a ideia é dizer-vos que a realidade é tão má, tão estranha, tão inimaginável 
que precisei de recorrer à literatura infanto-juvenil para descansar as ideias. 
Até agora está a ser uma excelente leitura. Quando a Feira do Livro decorrer,
 lá para o final de Agosto, corram e comprem-no!)

Por hoje é isto. Talvez amanhã haja mais. Não me comprometo porque, ainda que os dias agora pareçam todos iguais, a verdade é que são mais diferentes do que nunca. Até lá, cuidem de vocês e dos que vos são queridos. Como agora vamos dizendo, à laia de mantra, vai correr tudo bem. Vamos  todos ficar bem.

5 comentários:

  1. Pronto, descobri a primeira coisa boa desta vida surreal que estamos a levar. Voltar a ler-te :) Beijinhos

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    1. Ooooooh! Assim fico corada e isso não vai nada bem com esta minha fatiota de isolamento social. :) Um beijinho.

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  2. Olha, esse já tinha lido (e quanto à parte do pêlo, não sei: é Primavera e ando a largar tanto cabelo... – 'larga-me, estou a escrever sem AO) :)

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    1. Hoje reparei que o gato já está a mudar o pêlo. Ou seja: além de fechada em casa, serei brindada com tufos, muitos tufos! Leste este livro? Andava para te falar dele. Tem muitos ingredientes de que gostas: histórias tradicionais, fantástico e o autor era actor no Glee... :)

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  3. Lady Gatica é uma enorme beldade. Sorte por a Cão se entreter com bolas - temo diariamente pelo enfado da cadela residente, menina de resgate que nunca aprendeu a brincar. Boa quarentena!

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