quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O meu jardim

Não acredito que não ganhei o prémio de Blogue do Ano! Ando eu aqui a manter dois blogues a pão de ló e no fim é isto?! Mas que despautério!

Obviamente, estou a brincar. Este meu singelo cantinho conhecido por cerca de trinta pessoas é semelhante a um pequeno jardim onde se cultivam meia dúzia de flores e um ou outro arbusto, mas que não é nada que se compare aos jardins de Versalhes. Dá gozo ao jardineiro ver crescer as suas poucas plantinhas, mas no fundo não espera que o mundo goste tanto delas como ele gosta. São suas, só suas e muito suas. As pessoas que passam podem sentir-lhes o perfume, tocar nas pétalas e seguir adiante para ver o jardim seguinte. Ninguém leva verdadeiramente na memória qualquer das flores desse jardim, ninguém atenta verdadeiramente nos pormenores. Por vezes acenam ao jardineiro e é aí que este percebe que afinal não é totalmente invisível e que sempre há quem passe diante do seu modesto jardim. O jardineiro também sabe que há quem goste de trilhar caminhos que passam quase diariamente por ali, mesmo que não lhe acenem, que não cheirem as suas flores, que não se detenham a observar os pormenores, que não abrandem muito o passo. O jardineiro sabe que não pode competir com jardins muito maiores e com maior variedade de flores, com uma flora invejável de tão rica e exótica; mas o jardineiro também não quer competir. Ele gosta do seu jardim pequenino, pequenino. Ele gosta da sua meia dúzia de flores, da meia dúzia de pessoas que fizeram do passeio por lá e do aceno ao jardineiro um hábito saudável. Ele gosta de ser um ilustre desconhecido e de não ter gente menos boa a deitar lixo por cima da cerca, tentando dar cabo das suas flores.

Este jardineiro, como todos os que fazem o que ele faz, gosta do seu cantinho porque o fez nascer e crescer, porque o alindou como pode, porque lhe dedicou o seu tempo. Este seu cantinho parcamente florido é seu e foi nesse jardim que deixou, em jeito de cuidados, as suas alegrias, aflições, tristezas e desejos. Nunca se sentou diante dele à espera de visitas aos milhares, de um reconhecimento desmedido, de um aplauso imenso. Se se sentou diante do seu jardim foi apenas para descansar num lugar seu onde lhe dá muito gosto estar, sem ver passar ninguém ou vendo uns poucos acenos que simpaticamente sempre vão aparecendo.

4 comentários:

  1. Exacto, é mais ou menos isso. Eu também tenho mais ou menos dez leitores que não a família e amigos, mas não consigo parar de 'registar' as minhas viagens. E depois vejo coisas incríveis que os outros bloggers mega famosos fazem e penso... Oh, também quero um registo das minhas férias assim, e pimbas, agora meti-me nos vídeos. Mas pronto, quando os conhecidos te param na rua a dizer que firam uma foto ou um post que mesmo fixe e a pedir conselhos para a viagem seguinte, já vale a pena. Mesmo que nunca me vá deixar rica :) Ahahah

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    1. Pronto, a mim ninguém me pergunta nada. Ou quando muito perguntam-me que livro devem ler a seguir. Mas é isso: é apenas um humilde blogue, encalhado em três dezenas de leitores. Houve alturas, logo no início, em que pensei que mais valia acabar com o blogue porque estava a escrever coisas que ninguém lia. No fundo, estava a perder o meu tempo. Mas não o fiz porque me sentia bem a vir cá falar de livros ou de outras coisas (assim como te faz feliz falar das tuas viagens). Se ninguém lesse, paciência. Mas eu gostava de vir cá. Por isso é que fiz a comparação ao jardim: são algumas rosas que cultivo e trato com carinho. Não espero que venham em peregrinação ao jardim, mas também não quero que venham espezinhá-lo. Se passarem, que seja para me dizerem “olá” e se forem poucos, que sejam bons. Nunca será o blogue do ano (nem sequer o blogue do dia, quanto mais!), mas é o meu cantinho e eu gosto muito dele. Ah, e não me deixará rica porque não me dá nem um tostão. Eheh.

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  2. Alguns de nós, jardineiros, criamos e cuidamos do nosso jardim também como um escape, uma forma de desabafo. Se gostamos de ser lidos? Eu cá falo por mim, jardineira e ser (mais ou menos) social: claro que sim! Mas muitas vezes acho que escrevo mais para mim (ou porque me faz bem) do que para os outros.
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    1. Sim, acho que isto dos blogues (pelo menos os que não atingem o estrelato) é mais para os seus autores do que para os seus leitores. Concordo inteiramente contigo: eu também gosto que leiam o que escrevo, mas não escrevo a pensar no que os leitores irão gostar ou não. Escrevo sobre o que quero e partilho aquilo de que gosto ou de que não gosto. Gostava de chegar a mais pessoas, acho que todos nós temos essa pequena vaidade, mas maioritariamente o blogue é para mim. É o meu jardinzito. :)

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