sexta-feira, 20 de maio de 2016

O Mundo de Enid Blyton - o balanço

Talvez alguns tenham reparado que andei a ler uma biografia de Enid Blyton, O Mundo de Enid Blyton, escrita pela Alice Vieira. A capa do livro esteve ali al lado na "leitura do momento". 

Embora tenha achado que o livro poderia ter aprofundado mais a vida da autora de Os Cinco, nomeadamente no que às suas relações humanas diz respeito, a verdade é que não fui capaz de largar esta biografia. Fiquei muito surpreendida com o facto de alguém tão adorado pelas crianças ser, na vida privada, muito desligada dos seus, bastante fria com eles até. A relação com o primeiro marido chega a provocar a maior das penas pelo senhor e a amargura que a filha mais nova sente pelo desprezo a que a mãe a votou é muito triste. Enid Blyton parece, segundo este livro, ter querido agradar a todas as crianças inglesas, menos às que tinha na sua própria casa e que deixava ao cuidado de amas, com a exigência de que nunca perturbassem o seu trabalho.

Depois há os testemunhos de adultos de hoje que cresceram com estes livros e que, de um modo geral, falam deles com uma ternura imensa. Alguns sabem hoje que, na vida privada, Enid Blyton parecia uma máquina: sempre a trabalhar, delegando o cuidado das filhas noutras pessoas, expulsando o pai das meninas da sua vida, expulsando a própria mãe da sua vida, escrevendo livros a granel e quase em formato "livros pedidos" (as crianças pediam e ela escrevia). Ainda assim, sabem separar as águas e olhar para a autora e não para a mulher. De facto, muitos escritores foram umas bestas que nos deixaram obras formidáveis. Enid Blyton, usando sempre (ou quase) a mesma receita, atingiu o sucesso e pôs os miúdos a lerem e a quererem mais. Fazendo a comparação possível, é assim como os livros da colecção "Uma Aventura", da qual hoje há quem diga que é uma porcaria, mas que formou muitos leitores, que foi responsável pelas primeiras horas de leitura a sério de muita gente da minha idade e até mais velha. Ainda hoje leio livros dessa colecção e não lhes encontro os mil e muitos defeitos que outros já apontaram. Sim, o modelo (tal como com Os Cinco) é sempre o mesmo; sim, as situações são inverosímeis (em muitos momentos), mas e depois? São livros e para muito verdadeira já cá está a vida!

Por isso, ainda que não seja uma biografia muito profunda, esta que Alice Vieira fez de Enid Blyton dá perfeitamente a ideia de que o que transparece nos livros não é, de todo, o mesmo que está do outro lado da capa, do lado da autora. Vale a pena ler.


3 comentários:

  1. Essa biografia está na minha lista de espera. Tenho todos os livros dela que consegui encontrar à venda, e já os reli vezes sem conta.
    Já colecção portuguesa Uma Aventura, apesar de também ter feito parte do meu início como leitora, e de ter a coleção quase toda, nunca me seduziu muito. Aliás, quando a minha mãe quase me obrigou a desfazer-me dos livros infantis/juvenis que tinha lá por casa esses marcharam logo e os da Enid Blyton continuam comigo para todo o sempre, alguns já quase podres porque os tenho em edições dos anos 70, achados no baú de alfarrabistas.
    ps: as edições atuais tem umas capas muito feias, faltam-me dois ou três das Gémeas no Colégio de Santa Clara e não sou capaz de os comprar com aquelas bonecadas palermas na capa.

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  2. Comprei há umas semanas seis livros da colecção O Colégio das Quatro Torres e seis da colecção Mistérios também nas suas capinhas antigas. Mas até estão em muito bom estado. Nas feiritas de livros usados ainda se vão encontrando com relativa facilidade.

    As capas atuais infantilizam aquilo até ao tutano, como agora se faz em tudo (havias de ver os manuais escolares do Ensino Secundário...).

    Gostei da biografia. Como disse, preferia que estivesse mais aprofundada, mas de facto, enquanto o estás a ler, não o largas. Como já o li, vou pô-lo à venda no outro blogue. :P

    Os livros ‘Uma Aventura’ foram um vício para mim. Mais dos que 'Os Cinco’, até. Houve quem me emprestasse os da colecção ‘Uma Aventura’ e eu lia um por dia. Tenho mais curiosidade pela Enid Blyton agora, em adulta, do que na altura. Quando eu era pequenita, quem estava na berra eram mesmo a Ana Maria Magalhães e a Isabel Alçada, a Alice Vieira e a Maria Teresa Maia Gonzalez. Tinha para lá uns livritos da minha irmã que eram da Enid Blyton, mas li-os pouco. Agora, a autora era cá uma personagem...

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  3. Ahahahah, eu deixo-me mais 'levar pelas massas' agora do que quando era pequena. Ninguém que eu conhecia lia Os Cinco, é verdade. Foi a minha mãe que me deu o primeiro, "Os Cinco e a Ciganita" e daí foi até acabar a colecção :)

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