terça-feira, 28 de julho de 2015

Um retrato que não houve

Em dois mil e dez defendi a minha tese de Mestrado. O dia foi inesquecível mas, passada toda a euforia, caiu-me que nem uma bomba a noção de que ninguém, NINGUÉM, se lembrou de tirar-me uma fotografia que fosse. Nem à saída da defesa, nem durante o almoço, nada. Consumi-me um bocado ao pensar que de um dia tão feliz não restaria sequer um retrato para memória futura. Ainda hoje sei o que tinha vestido, sei quem lá estava comigo, sei o que foi o almoço e que flores a minha irmã me ofereceu. Só não tenho uma fotografia e lamento-o ainda mais porque a minha avó, que veio de propósito da sua casa na aldeia para ver-me falar de um assunto que não dominava, esteve lá e não há uma imagem dessa que foi a sua última vinda a Lisboa e, em última análise, a casa dos meus pais.

Tenho pena de não ter um registo fotográfico desse dia, mas esta semana li na revista Sábado qualquer coisa que fez com que me sentisse menos mal: numa coluna da página quinze, o escritor Nuno Costa Santos, de quem nada conheço, diz qualquer coisa que, ainda que não elimine o meu lamento, pelo menos deixa bem claro o motivo pelo qual ninguém se lembrou de fotografar um dos muitos momentos daquele dia. Diz ele que "Há pouco não fotografei o meu filho de 11 meses a molhar pela primeira vez os pés nas ondas. Limitei-me a viver o momento. Peço desculpa.".

Pois foi isso. Todos os que verdadeiramente estavam lá comigo e por mim viveram comigo aquele momento e, coisa impensável em tempos nos quais até braços extensíveis para tirar selfies andam nas malas femininas, não ocorreu a ninguém parar para o habitual retrato. Teria sido bom tê-lo, mas não vale a pena massacrar-me com isso: lembro-me das pessoas, do ambiente, da roupa, dos vários momentos do dia e isso é o mais importante. O resto seria apenas acréscimo.

2 comentários:

  1. Oh,que giro, também defendi o meu primeiro mestrado em 2010! Também tenho pena de não ter uma foto decente, as únicas que tenho são do restaurante onde fui comer a seguir e estou horrível.Queria ter tirado com o júri, com os amigos, na universidade, mas é como dizes, o importante é ter vivido o momento!

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    1. Sim... Tenho mesmo pena de não ter uma fotografia porque, infelizmente, as memórias só ficam mesmo dentro da nossa cabeça e não podem ir para uma moldura ou para um álbum. Mas anima-me pensar que se ninguém parou para tirar uma foto de um dos muitos momentos daquele dia foi porque, de facto, foi um dia cheio de coisas boas e ninguém o quis parar para o típico retrato. :)

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