sábado, 21 de março de 2015

Gatos, revoltem-se!

 
Comprei a Sábado desta semana por causa da capa. Sendo a feliz proprietária de um gato alucinado, mas tendo-me considerado uma «dog person» durante vinte e oito anos da minha existência, fiquei curiosa por saber o que era, afinal, melhor para mim (como diz na capa). E tirando os interessantes testemunhos de pessoas que partilham as vidas com muitos gatos e cães que as fazem felizes, terminei a leitura com a sensação de que quem escreveu este texto não tem muita noção do que é ter um gato.
 
Na página quarenta e quatro da revista, aparece uma tabela que sintetiza as características de gatos e cães no sentido de o leitor perceber qual é, afinal, o melhor para si. Na parte dos cães é dito «Têm necessidade de afecto: precisam do contacto com as pessoas.». E na parte dos gatos diz «Não precisam de atenção: dispensam cuidado constante, são independentes e selectivos.». Bom, até consigo perceber a ideia de não precisarem de cuidados tão constantes quanto os cães, até porque não costumamos precisar de levar os gatos a passear e, só por aí, verifica-se boa parte da tal independência de que se fala. Agora, nunca na minha vida concordarei com a expressão «Não precisam de atenção» aplicada aos gatos. Precisam sim e se for para não a terem, mais vale que não se arranje gato nenhum.
 
Já percebi que o Sr. Gato desobedece ao protótipo do gato independente, que passa horas e horas do dia a dormir e que não liga nenhuma aos donos. Se o contrário de tudo o que disse for um cão, então o meu gato é, na realidade, um canídeo. Mas se acredito que muitos gatos passam de facto o dia a dormir, a verdade é que mais tarde ou mais cedo aparecerão junto dos donos porque precisarão de atenção. Pensar que os gatos, por serem mais independentes, não precisam que paremos para lhes prestar os devidos miminhos e cuidados é errado. No meu caso, nunca pensei que um gato pudesse ser tão dependente quanto o meu é. Se não lhe der atenção (a acreditar no «Não precisam de atenção»), ele far-me-á perceber que estou em falta e nem que seja a partir-me metade da casa, mostrará que não está satisfeito. Hoje, ainda antes das dez e meia da manhã, o Sr. Gato já tinha ido para cima de mim três vezes para pedir festas e ronronar enquanto as recebia. Ele vem receber-nos à porta de casa todos os dias e ontem, enquanto trabalhava no computador, veio ter comigo com um ratinho de brincar e deixou-o cair aos meus pés para que eu o atirasse e ele fosse a correr buscá-lo (como os cães costumam fazer). Eu atirava-o, ele ia buscá-lo e voltava a trazer-mo. Se me atrasasse a atirá-lo, ele vinha para ao pé da minha cadeira e miava até eu continuar a brincadeira. Portanto: sim, os gatos precisam de atenção. Uns mais do que outros, mas precisam e merecem tanta atenção quanto os cães. Podem precisar de cuidados diferentes, mas precisam de nós na mesma, precisam que lhes demos aquilo de que necessitam para viverem bem e felizes.
 
Agora, relativamente ao tema da reportagem, se pedissem o meu testemunho eu diria que a vida sem animais de estimação não tem gracinha nenhuma e que não compreendo as pessoas que se recusam a ter animais de companhia nas suas casas. O que fazem por nós e o que nos dão é tanto que a vida só pode sair enriquecida pela presença de um gato ou de um cão. Podemos passar horas de vida a mudar a areia, a pôr água e comida aos bichos ou a escová-los; podemos gastar uma parte do orçamento em ração, desparasitantes, idas ao veterinário ou em brinquedos, mas isso acaba por ser pouco perante a companhia e a amizade destes peludos. E segundo os testemunhos de alguns médicos, em crianças, a convivência com gatos ou cães até tem a capacidade de reduzir as alergias devido ao facto de constantemente estarem em contacto com os elementos que podem causá-las. Criam, assim, resistências a esse problema de saúde. Enfim, no meu caso, e mesmo tento o gato mais sedento de atenção que deve existir no planeta (e que hoje me acordou às três e meia da manhã a pedir comida e depois às sete a pedir festas), admito que adoro este bichano e que aguardo ansiosamente a chegada de um companheiro para ele por duas razões: porque melhor do que um gato só mesmo dois e porque eles precisam mesmo de atenção e a nossa vida não está feita para lha darmos vinte e quatro horas por dia. Assim, terá um amiguito igual a si para brincar. E desfazer-me a casa toda.

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