segunda-feira, 1 de maio de 2017

Tristes memórias

Quando uma pessoa pensa que já viu e ouviu de tudo, eis que surgem novas desgraças debaixo do sol. Nos últimos dias falou-se de baleias azuis e as nossas bocas abriram-se de espanto. Cada vez mais acho que as consultas de psicologia deviam ser obrigatórias para todos os cidadãos, nem que fosse apenas para controlo uma vez por ano. Talvez coisas destas se apanhassem mais cedo.

Enquanto dei aulas, fui a “descobridora” de dois casos de automutilação em adolescentes. Senti o coração cair-me aos pés, especialmente no segundo caso em que o miúdo, depois de conversar com ele um pouco em voz baixa numa sala cheia de gente, me contou tudo: as razões, o alívio que aquilo lhe causou... Tudo. A escola desvalorizou. Chegou a dizer que a história tinha sido “sobrevalorizada”, mesmo tendo de chamar o pai do aluno para contar-lhe o que se passava. Pois, mas eu vi os cortes e já nem eram todos recentes. 

Pode ser que esta tristeza da baleia azul sirva, pelo menos, para pôr as pessoas mais atentas, inclusivamente as pseudo-escolas que vêem grandes problemas num aluno que passa os intervalos a beijar na boca a namorada, mas que não encontram grande mal num menino com vida difícil que opta por aliviar a dor cortando sistematicamente a pele.

3 comentários:

  1. Não sei se estou mais chocada com o facto de haver cada vez mais miúdos a sentir necessidade de recorrer à auto-mutilação ou com a escola que achou que isso não era demasiado importante.

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  2. Há, mesmo nos níveis socio-económicos mais elevados, miúdos com vidas muito difíceis. Por isso, embora perceba o teu dilema, a mim choca-me muito mais a desvalorização que a escola fez de tal problema. Temos tendência para acreditar que os miúdos têm hoje vidas muito facilitadas e sem quaisquer dificuldades, mas há aspectos em que a infância e adolescência deles é muito mais difícil do que as nossas foram. Razão mais do que suficiente para as escolas estarem atentas e não darem por "inflacionados" problemas para os quais os professores alertam. Mas é assim que muitas escolas trabalham. O que importa é que as mensalidades entrem a horas...

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  3. As doenças mentais são tão descuradas.
    Não são visíveis, não interessam ou não existem.
    Espero também que alguns pais passem mais tempo a conhecer os filhos. E a estarem mais atentos ao que lhes diz respeito, que leiam melhor nas atitudes e nas entrelinhas. No entanto, receio que dure apenas enquanto se falar na baleia azul. Espero estar enganada. Vê-se tanto egoísmo em alguns pais, é desesperante.

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