sábado, 6 de maio de 2017

As minhas vergonhas

Há coisas que me acontecem que me fazem pensar que só mesmo a mim (tantos "que"!). Aliás, tenho há vários anos a teoria de que alguém, numa realidade paralela, se deve fartar de rir de mim porque só isso explicará a quantidade de coincidências irónicas, de pequenos grandes desastres, de encontros e desencontros e de muitas outras coisas mais que me acontecem. 

Na sexta-feira passada tive mais um episódio desses a entrar para o livro das vergonhas da minha existência. Então imaginem a cena que vos vou contar. 

O meu prédio está a remodelar a canalização da água e os novos canos vão entrar nos diferentes apartamentos de formas várias, conforme sejam esquerdo, direito ou frente. No meu caso, o cano vai entrar pela despensa, que fica ao lado da cozinha e que partilha a parede com o patamar. Já sabia que na sexta-feira precisariam de ir a minha casa para fazerem os primeiros furos e tirarem medidas. Também já sabia que, além dos senhores que estão a fazer a obra, iria também o administrador do condomínio (o tipo com o ar mais antipático e com a mania de que sabe tudo que consigam imaginar. É conhecido como "O Senhor Engenheiro"). Bem, dois dias antes e ainda sem saber da visita, tinha arrumado a casa e limpado tudo. Estava apresentável para ser completamente conspurcada com as obras. 

Mas na quinta-feira à noite começou a chover. Eu tinha roupa estendida que estava seca e só tive tempo de correr para a janela para salvar as peças de uma molha. Ainda assim, molharam-se um pouco. Para não ficarem húmidas umas sobre as outras, espalhei as peças pela cozinha de modo a acabarem de secar durante a noite. 

No dia seguinte, levantei-me cedo para esperar pelo Senhor Engenheiro e pelos moços das obras. Tinha tudo arrumadinho e apresentável. Supostamente viriam depois das nove, mas meia hora antes bateram-me à porta. Bom, lá vai o Senhor Engenheiro com o empreiteiro até à despensa, falam sobre medidas e canos e afins. Pedem-me para irem à cozinha e eu digo que  podem, obviamente. Foram e lá conversaram mais. Depois veio o moço para fazer o furo e também ele precisou de ir à cozinha. 

Quando tudo sossegou, também lá fui para comer uma frutinha, já que ainda estava em jejum. Ao chegar lá, caiu-me a alma aos pés: espalhadas pelas costas das cadeiras, pelos puxadores do frigorífico e penduradas nas esquinas da mesa estavam as peças de roupa que quase se tinham encharcado na noite anterior. Tinha-me esquecido delas e toda a gente as viu pela cozinha fora, como se a máquina de lavar tivesse explodido e lançado pela divisão toda a roupa possível. 

O que eu ainda não vou disse é que se tratava apenas de roupa interior. Minha e do moço. Imaginem o que se pensou de mim enquanto se viram as minhas cuequinhas lavadas e penduradas no puxador do congelador. Ou nos encostos das cadeiras. Que vergonha, minha gente! Isto só a mim. 

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