quarta-feira, 24 de maio de 2017

Peculiaridades de um leitor VII


Há dois tipos de leitores: por um lado, os que têm grande controlo sobre a sua estante e que conseguem ter uma lista relativamente pequena e comedida de livros por ler (às vezes até os têm bem contadinhos); por outro, os que querem lá saber se têm uma grande ou pequena fila de livros em espera e que compram mais e mais e mais e mais livros. Pertenço claramente ao segundo grupo.

Eu tento, tento, tento, mas não há maneira: basta cheirar-me a livros que eu vou, qual perdigueiro na caça! Ainda ontem, depois de tomar um simpático pequeno-almoço na Padaria do Bairro, vou a atravessar a estrada e bato com os olhinhos na Leituria. Lá fui eu e lá descobri os livros da colecção da quixotada anterior a um preço fofinho de mais para não virem comigo. Mais cinco, portanto.

Já passei por épocas com muito trabalho em que quase deprimia ao olhar para as estantes. Ficava até um bocadinho ansiosa por pensar que à velocidade a que lia, nunca conseguiria ler nem metade da minha própria biblioteca. Escolher o livro seguinte era, por isso, também motivo de ansiedade, imaginem só (acho que já perceberam que tive problemas de ansiedade, cortesia da minha antiga vidinha profissional). Agora, com mais tempo e uma cabeça mais tranquila, já não é bem assim. Leio mais do que um ao mesmo tempo e despacho-os à velocidade da luz. Como este ano resolvi dar uso ao Goodreads, sei o que já li e o que anda pendurado e a custar a engolir. O número de livros começados e terminados desde o início do ano já vai nas três dezenas, o que não me parece mal.

Mas estou a fugir ao tema. Conheço casos de quem só compra à medida que lê e que não quer ter livros parados na estante, eternamente à espera de que chegue a sua vez. Admiro o racionalismo dessas pessoas porque eu sou totalmente desprovida dessa capacidade. Sou mais uma espécie de lobo esfaimado dos livros. Não sei controlar-me assim. E nem sonham o gozo que me dá quando se fala de um livro (e mais ainda quando não é de literatura) e penso «Já tenho.», podendo por isso chegar a casa e lê-lo se assim o entender. No curso livre que frequento isso já aconteceu algumas vezes.

Quando era mais miúda, também tinha as filas de espera controladas e não gostava. Por isso relia muito. Hoje não o faço tanto porque sei que ainda tenho muito por ler e não preciso de ir repetindo leituras. Quando o faço é porque adorei mesmo o livro ou por motivos profissionais, problema que por agora não se coloca. Hoje não sou controlada porque tenho um grande apetite e mais ou menos variado, tanto que não posso ver uma boa oportunidade e passar ao largo. Há quem consiga. Há quem consiga não ir à Feira do Livro, por exemplo, porque tem ainda muito por ler em casa. Eu consegui comprar uns quarenta livros na Feira de 2016... Enfim, são novamente peculiaridades de leitores capazes de agirem de formas diferentes relativamente ao mesmo objecto. Há os descontrolados e os que seguram bem as rédeas da sua biblioteca. Esses são os que à típica pergunta «Mas tu já leste isto tudo?» podem responder que sim. Eu nunca o poderei fazer, a menos que me torne imortal.

Nota: A imagem saiu daqui.

2 comentários:

  1. Sou claramente do primeiro grupo :D
    Dá-me ansiedade saber que tenho livros à espera, coitadinhos.

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  2. Não consigo comprar livros à medida que leio. Quando vou a uma livraria (e aqui é um tormento, há tantas e tão boas!) compro logo um saco cheio. E depois ficam aqui na estante, coitados, à espera da sua vez numa lista interminável. Não tenho remédio...

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