terça-feira, 30 de maio de 2017

Os espantalhos

Os espantalhos são criaturas que parecem estar mortas estando vivas. Pior: que nos fazem morrer um bocadinho cada vez que temos o azar de cruzar-nos com elas. Bem, cruzar-nos nem é bem o termo certo já que eles não nos dão lá muito a hipótese de nos cruzarmos...

Os espantalhos são aquelas pessoas que andam pelo passeio a pisar ovos e que nem dão por nós quando já estamos mesmo atrás deles e a implorar para nos deixarem passar. Ou se calhar até percebem que estamos ali e simplesmente escolhem continuar a morrer pelo passeio e a matar-nos de nervos. Também há a versão colectiva dos espantalhos. É visível quando mais do que um espantalho forma uma linha horizontal que ocupa todo o passeio. Se já o Espantalho de O Feiticeiro de Oz era desprovido de miolos, estes seres estranhos do século XXI seguem o paradigma e não percebem que o mundo não é só deles.

Mas o que ainda me espanta mais é que, de um modo geral, os espantalhos andam muito, mas mesmo muito devagar. E mesmo quando dão por alguém que quer ultrapassá-los demoram a reagir e a desviarem-se para cederem passagem. Parecem apoucados de todo. Mas muitas vezes parecem ainda mais mal educados porque colocam o ar de quem vai fazer um extenuante favor à Humanidade quebrando a tal fila horizontal de converseta para deixarem passar o comum mortal. Chega a ser inacreditável a quantidade de gente que anda pela rua em modo de emplastro, sem rota certa, pelo meio dos passeios, em velocidade para lá de lenta. Meus amigos, querem deambular? À vontade! Mas encolham-se e deixem o resto do passeio livre para quem não quer andar a apalpar o chão com a sola dos sapatos. Um bocadinho de bom senso seria mais do que suficiente. Se o passeio tem gente a percorrê-lo nos dois sentidos, por que raio o ocupam todo horizontalmente apenas para conversarem melhor? Não podem, pelo menos, ir aos pares? Irra!

Não vejo fim à vista para os espantalhos. Por isso, ou eu me transformo também num e submeto-me ao «Se não podes vencê-los, junta-te a eles.», ou continuo a aguentar este inferno até que um meteorito estoure com a raça humana como fez com os dinossauros. Já estive mais longe de soltar audíveis palavrões no meio de um passeio, mas tenho-me segurado. Sei lá se vou conseguir fazê-lo da próxima vez que tope com um gangue de espantalhos em rodinha para a converseta pós-almoço no meio da rua. 

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