quarta-feira, 10 de maio de 2017

Santa Engrácia: o remake

Quando se vive num prédio com mais de dez andares e vários apartamentos por piso, qualquer obra nos espaços comuns do edifício torna-se, como direi?, eterna. 

Por aqui remodelam-se as tubagens da água e tem sido uma experiência e tanto. Ora vejamos: no mesmo dia, no meu andar, o mesmo trabalhador conseguiu furar a parede até arrancar os fios do meu intercomunicador (depois bateu-me à porta com os desgraçados fios na mão a perguntar-me que fios eram aqueles) e furar a parede da vizinha mesmo no sítio onde passam os fios eléctricos, fazendo estourar o seu quadro eléctrico. Depois, o administrador do prédio, com a mania de que percebe imenso de tudo, foi à caixa de electricidade do patamar e mexeu nos fusíveis. Tirou uns daqui para pôr ali e pumba: fiquei eu sem luz. Por sorte estava em casa, dei pelo problema e fui plantar-me à porta a exigir a reparação imediata daquilo. Ele bem se preocupava com o facto de ser hora de almoço e de os trabalhadores terem de ir almoçar, mas eu fi-lo entender que eu também tinha o que fazer e que queria a luz reparada antes de sair de casa. Veio o electricista apenas para verificar que tinham tirado o fusível respeitante à minha casa. Claro que esta "reparação " não se fez sem antes virem dar uns murros no meu disjuntor. Toda a gente sabe que murros resolvem qualquer problema, seja um disjuntor disparado ou o problema da dívida externa. Mais: tanto se mexeu no que não era suposto que a luz do meu patamar, que dispara com sensor de movimento, passou TODO o fim-de-semana ligada. Viva o buraco na camada do ozono! Viva a pegada ecológica! Só na segunda-feira, com o recomeço dos trabalhos, se percebeu a porcaria que tinha sido feita. 

Entretanto estou com dois buracos em casa à espera de que venham colocar  as tubagens da água. Enquanto esse procedimento final não acontece, tenho de ter metade das prateleiras da despensa desocupadas. Hoje chegou  cá a casa uma jeitosa encomenda do Continente. Arrumar as compras já não é algo de que goste muito, mas atirá-las para dentro da despensa que está um caos chegando ao cúmulo de não encontrar nada do que preciso é horrível. 

E é isto. Vamos com um mês de obras. O mesmo tipo que rebentou com os meus fios e com o quadro da vizinha foi há pouco chamado para prosseguir os trabalhos neste andar. Estou a pontos de tomar um Victan porque já sinto ansiedade só por imaginar o que vai ele destruir agora. Sei lá, um dia destes chego a casa e falta-me uma parede ou tenho os fios eléctricos a passarem dentro dos tubos da água. Ou, quem sabe, os tubos do gás passam a servir para o transporte de purpurinas roxas. Já tudo é possível. É o remake das obras de  Santa Engrácia, mas na versão chata. 

3 comentários:

  1. Opah, perdoa-me, mas tive de me rir. É que para fazer tanta coisa é mesmo preciso ser um grande artista!

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    1. Então toma mais esta: o tipo que fez os buracos nos sítios errados foi hoje para casa da vizinha da frente para reparar o quadro (desgraçada da vizinha, ainda teve de ver o interior da casa a ser partido, quando a ideia era mesmo não partir nada dentro dos apartamentos). Mas adiante: o superior dele disse-lhe o que ele tinha de fazer e que aproveirariam o buraco que ele tinha feito para colocarem a tubagem. E a isto o génio responde: «Fui eu que fiz esse buraco???». Sem comentários.

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    2. Hmm... temos um caso grave de amnésia. Isso não é bom :/

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