Adoro o despique entre a Fnac e a Wook quando um deles se lembra de fazer descontos maiores do que os típicos dez porcento. A Fnac anunciou ontem que os dias 28 e 29 serão dias do aderente, ou seja, entre outros descontos, todos os livros estarão mais baratos vinte porcento. Mal vi o anúncio, pensei: pronto, lá vem a Wook. E já veio mesmo: hoje e amanhã (portanto ainda antes da Fnac) oferece dez porcento de desconto imediato e outro tanto no PPL. Os portes, esses, são grátis em compras acima dos doze euros (os aderentes que forem à Fnac também não pagam portes, por isso a competição fica mais renhida).
Isto é tudo muito bonito. Hoje a Wook, amanhã a Fnac e assim lá podemos chegar a mais uns livritos a preços fofinhos que a vida não está para grandes gastos, infelizmente. Contudo, olhando para esta competição não pude deixar de me perguntar: e onde ficam as pequenas e médias livrarias no meio disto tudo? Sim, porque a sua margem de manobra para acções promocionais e publicitárias deste tipo é inexistente. O valor maior de uma livraria pequena não está nos preços que pode oferecer (que não podem descer muito), mas no tipo de atendimento que fazem, no cuidado com os seus clientes e com os pedidos que estes fazem. Ora, quando a Fnac faz destas coisas e a Wook segue o mesmo caminho, deve ser certo e sabido pelos livreiros de espaços mais pequenos que durante esses dias serão essas duas as lojas que lucrarão no negócio dos livros (como de costume, aliás). As outras sobreviverão, o que é, de resto, o que tem vindo a acontecer até aqui (vejam-se alguns dos textos publicados por Jaime Bulhosa no blogue da Pó dos Livros).
Tudo isto para dizer que o negócio dos livros é, hoje em dia, muitíssimo desequilibrado. Existem os gigantes e os anões. Os primeiros têm vindo a sentar-se nas cadeiras que eram dos segundos e precisamente quando eles ainda lá estavam sentadinhos. É lei sabida que onde só cabe um, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço e daí que aquela paisagem antiga que nos fazia ir encontrando livrarias aqui e ali enquanto nos movimentávamos por esta cidade ou por outras, mudou. Agora os livros estão em todo o lado: em hipermercados, estações de correio, bombas de gasolina... Estão, também e em quantidades colossais, na Fnac e na Wook. Onde eles já não conseguem estar é mesmo mas livrarias, naquelas menos megalómanas, onde quem vende realmente sabe o que vende e sabe o que dizer sobre cada item que tem na sua loja.
Claro que eu adoro os descontos e acabo sempre por aproveitar um ou outro, conforme a disposição. Contudo, percebo o desespero sentido nas pequenas e médias livrarias, lojas quase em extinção e que tão bem nos serviam antes de os gigantes chegarem. Algumas ainda estão aí para nós, mas são já tão poucas que em breve encontrar uma livraria que não pertença aos colossos será mais difícil do que encontrar um ser mítico enquanto se caminha pela rua.
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