quarta-feira, 24 de março de 2021

A Menina Quer Isto CXXIII

Já não vinha para aqui pedinchar desde julho de 2019. Nem sei como me aguentei! Aposto que a minha família passou a ter maiores dificuldades para decidir o que me oferecer. Pois bem, fofinhos, eis que as listas se abrem novamente. Rufem os tambores! Trrrr trrrr trrrr trrrr! (Não sei bem se isto foi um rufar de tambores ou um telefone antigo, daqueles com a rodinha e tudo. Bom, valeu a intenção.)

Ora bem, e que quer a menina? Adivinhem lá? Só não digo que ofereço alguma coisa a quem adivinhar porque provavelmente ia mesmo ter de abrir os cordões à bolsa. Pois, é verdade: livros. São quatro, ainda por cima.


Wook.pt - O Árabe do Futuro 1Wook.pt - O Árabe do Futuro 2

Wook.pt - O Árabe do Futuro 3Wook.pt - O Árabe do Futuro 4

Nota: Como se vê, as imagens das capas saíram da página da Wook.


Hoje andava em busca de uma informação e topei com estes livros. São quatro volumes de uma novela gráfica de cariz autobiográfico em que o autor, Riad Sattouf, de origem franco-síria, junta as memórias da sua própria infância com a história do mundo árabe. E assim mostra como era crescer no regime de Kadafi, como foi depois a vida na Síria, os conflitos dentro da própria família, o peso da religião nas dinâmicas familiares, o ensino na escola de uma pequena aldeia árabe, os costumes mais ou menos conhecidos de uma cultura que está tão distante da nossa... Claro que acredito que este seja apenas um ponto de vista e que esteja muito marcado pelas vivências únicas do autor que, como bem entendemos, terão sido diferentes das de muitas outras pessoas. Ainda assim, creio que deve ser uma leitura interessante se não perdermos de vista a ideia de que estes não são livros de História. São, sim, livros ficcionais onde há elementos históricos que são interpretados e contados depois de passarem pelo filtro da inocência da infância.

A ideia terá nascido no início da sangrenta guerra civil que devastou a Síria (2011) e o livro que inaugurou a tetralogia venceu o prémio de Melhor Álbum do Ano no prestigiado Festival de BD de Angoulême 2015. As traduções sucederam-se e os exemplares foram vendidos aos milhares.

Dos exemplos que pude ver na internet, o texto é marcado pelo humor e o facto de realidades tão complexas serem vistas e interpretadas por uma criança gera leituras curiosas. Desengane-se quem acha que o humor apouca o texto. Gil Vicente seguia a máxima “ridendo castigat mores” e a verdade é que todos prestámos muita atenção ao que ele tinha para nos dizer sobre a sociedade portuguesa do seu tempo. Parece-me, pelo que pude ver, que aqui acontece o mesmo. Talvez "castigar" não seja exatamente o objetivo de Riad Sattouf, mas sim divulgar o seu ponto de vista sobre o que lhe calhou viver e conhecer do mundo árabe.

Gosto muito de novelas gráficas assim como gostava de banda desenhada desde pequenina. Aqueles pequenos quadradinhos com os seus balões permitem dizer tanto. Neste caso, junta-se o formato que me é tão querido com uma outra característica que adoro encontrar na literatura: a autobiografia. E para a receita ser perfeita, ainda temos a visão infantil, que tantas vezes consegue ser bem mais crua do que a visão já mais mastigada de um adulto. Portanto, para mim, junta-se aqui o útil ao agradável. O resultado já se sabe: é que a menina quer isto.


 

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