domingo, 5 de abril de 2020

Para o que estávamos guardados V

Estou há vinte dias em teletrabalho e, portanto, em isolamento. Há dias em que, confesso, me apetece esconder-me debaixo da cama e ficar por lá. Felizmente, há outros em que até me abstraio da realidade e entro de tal forma no livro que estou a rever que o tempo chega a passar depressa.

Entretanto, quase vinte dias depois, voltei a ver embalagens de álcool à venda e por um preço normal. Acho que se tivesse visto um unicórnio vestido de cabedal e plumas não teria ficado tão espantada. Fora isso, acho que o que me chocou mesmo a sério foi o facto de ter pago quase cinco euros por uma couve-flor que nem era assim tão grande. Ou eu tenho muito azar, ou os estabelecimentos onde vou às compras têm sempre pouca oferta de frutas e vegetais e o que têm está caríssimo. No resto das coisas nem noto grande diferença nos preços. 

Noto, sim, que tenho jogado mais no tablet e que tenho optado por livros divertidos. Para seriedade já chega o que estamos a viver. A ideia é mesmo desligar e ocupar a cabeça com... Nada. Acho que é fácil cair na tentação de seguir as notícias quase ao minuto, mas não é boa ideia. Estamos, cada um de nós, a cumprir a nossa parte e isso já é imenso. Parecendo que não - porque, afinal, só nós mandam estar em casa -, estamos aterrados e cada dia que passa é mais um que vivemos com o coração na mão e a perguntar-nos quando chegará o dia em que saíremos sem medo para a vida de todos os dias.

Medo do vírus, por nós é pelos que amamos; pelo que Portugal ainda tem pela frente; uma dor sem descrição possível pelo que sabemos de outros países, alguns tão próximos, tão nossos conhecidos; o pânico de que a economia nos leve o trabalho e nos devolva à situação que julgávamos ter deixado para trás. Enfim... Temos tanto em que pensar que se torna importante escapar um bocadinho a isto tudo. Por isso, leiam livros que vos levem para histórias completamente diferentes daquelas a que assistimos actualmente, vejam filmes que vos ocupem a mente, ouçam boa música e batam o pezinho ao som dela. Cantarolem, aproveitem as idas à janela para verem as estrelas que, ironicamente, voltaram ao nosso céu. Façam bolos e bolachas: é relaxante e comê-los sabe bem. Teremos tempo para dietas depois disto tudo (e quando uma couve-flor não custar cinco euros...). Aproveitem para fazer algo que quisessem fazer há muito tempo, mas que nunca tivessem começado. O que quiserem. Mas tentem, como eu tento, pensar noutras coisas e fugir ao medo. Havemos de superar isto e precisamos de chegar sãos a esse dia. Oxalá, ele chegue depressa. 

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