domingo, 17 de junho de 2018

A Coisa Terrível Que Aconteceu a Barnaby Brocket - O balanço



Há livros que são uma boa surpresa e este foi um deles. A Coisa Terrível Que Aconteceu a Barnaby Brocket, de John Boyne, foi um dos melhores livros que li nos últimos tempos. É, ao mesmo tempo, de uma doçura e de uma originalidade inegáveis. E, como se não bastasse, o texto é acompanhado por ilustrações que fazem deste livro uma pequena pérola.

Barnaby Brocket, o protagonista, nasce numa família que admira a normalidade. Aliás, admirar é pouco: os seus pais VENERAM a normalidade e não admitem nas suas vidas nada que contrarie aquilo que a sociedade encara como sendo normal. O seu terceiro filho, Barnaby, vem contrariar tudo e trazer às suas existências tudo aquilo que não aceitam. É que o pequeno rapaz, logo após o nascimento, começou a flutuar e não consegue deixar de fazê-lo à medida que cresce. Essa é a sua peculiaridade que, claro, não é bem aceite pelos pais (ainda que os dois irmãos mais velhos convivam lindamente com esta característica do Barnaby, mostrando que as crianças e os jovens são, muitas vezes, excelentes exemplos para os mais velhos). Enquando Barnaby é pequeno, é fácil mantê-lo afastado dos olhares dos outros, mas conforme vai crescendo torna-se inevitável fazê-lo sair de casa e, claro, a família acaba por ser alvo das atenções dos outros. E isso, como podem imaginar, é inaceitável para quem tem a normalidade como único objectivo de vida.

Certo dia, os pais chegam ao seu limite e Barnaby vê-se numa situação extraordinária para um rapazinho de oito anos: é que além de flutuar, vai encontrar-se sozinho e longe de casa. No entanto, a experiência permite-lhe viver várias aventuras e conhecer outras pessoas, também elas marcadas por aquilo que a sociedade entenderia como anormalidades. Conhecerá um casal de mulheres que as famílias desprezaram por gostarem uma da outra, conhecerá um homem com poucos meses de vida que recusa passar os seus últimos dias fechado entre quatro paredes como a família gostaria, conhecerá um rapaz com dois ganchos em vez de mãos que, por essa mesma particularidade, conseguirá salvar-lhe a vida, entre outras personagens extraordinárias.

Obviamente não vos contarei o final deste magnífico livro. No entanto, aconselho-vos vivamente a que o leiam. Fá-lo-ão num ápice, já que as aventuras do pequeno Barnaby Brocket são tão deliciosas que queremos sempre ver para onde flutuará a seguir. A escrita está, também, marcada por um sentido de humor discreto, mas evidente. Porém, o melhor que tudo é a mensagem importante que fica para todos os que lêem este livro, sejam pequenos ou graúdos: aquilo que é diferente não é necessariamente mau. Saber viver com as peculiaridades dos outros é muito bonito e é algo que devia acontecer sempre, sem serem necessárias palestras sobre o assunto. Aceitar quem não é como nós ou quem não é exactamente como a sociedade obriga a ser é um dever nosso. Este livro é bom para todos, mas sobretudo para quem ainda não percebeu isso.

Sem comentários:

Enviar um comentário