domingo, 4 de setembro de 2016

Unir pelos livros

Não fui à Feira do Livro no Palácio de Belém, mas pareceu-me uma excelente ideia. Aliás, até acho que deveria durar mais tempo ou repetir-se mais vezes ao longo do ano. Iniciativas que promovam a leitura, que agitem o mercado livreiro, que levem as pessoas a querer ter livros e conhecer novos títulos parecem-me sempre dignas de admiração e apenas pecam por serem poucas.

Todos sabemos bem como param as modas por agora. Grandes grupos editoriais, poucas editoras independentes por um lado e no que respeita à edição de livros; por outro, grandes cadeias de lojas que vendem livros (já para não falar dos sítios improváveis que também os vendem, como hipermercados e estações de serviço) e que fizeram sombra e acabaram por ajudar a matar as pequenas livrarias que por aí existiam, enchendo de cor as nossas cidades. Esta é a realidade. Ora, uma vez por ano em Lisboa e no Porto surge a Feira do Livro, onde as editoras se juntam numa festa na qual o livro é rei. É bom, mas sempre me pareceu que uma vez por ano não chega. Queixamo-nos tanto de que a população não lê, de que crianças e jovens fogem dos livros como o Diabo da cruz, mas não são assim tantas as iniciativas que levem tantas pessoas até eles. É verdade que existem alfarrabistas, feirinhas em estações do metropolitano, feiras do livro antigo... mas nada que seja tão apelativo quanto a Feira do Livro. Aliás, do que vou sabendo, às vendas de livros usados só vão os que têm uma relação já sólida com os livros. Quem prefere bestsellers ou outras novidades não tende a atravessar a cidade para ir a esses pequenos eventos. 

Por isso esta ideia da Feira do Livro no Palácio de Belém faz sentido. Gostaria que as editoras, pelo menos a mais pequenas que não fazem parte de grandes grupos editoriais, pudessem juntar-se mais vezes e trazer os livros até às pessoas (já que estas não os procuram tanto como gostaríamos). Gostaria que existissem mais iniciativas em que o livro fosse o objecto central. Mesmo que depois haja gelados para comer, refrigerantes para beber ou outras actividades que se enquadrem, gostava que os livros nos unissem mais, pois é para isso que existem. Se ler sempre foi um caminho para ligar pessoas, comprar livros também poderia ser. Ajudaria os leitores e o negócio livreiro. Só tínhamos a ganhar.

5 comentários:

  1. Enquanto a Apel mantiver os valores absurdos de inscrição, parece-me que esta "Festa do Livro" não faz grande sentido-é apenas mais do mesmo

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    1. Mas não te parece, apesar de tudo, que sempre é uma forma de voltar a levar os livros às pessoas (já que muitas não fazem os mínimo por procurá-los)? Não digo que seja a feira perfeita, mas algo é algo.

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  2. talvez seja o calor a afectar-me as ideias :D não fui a belém portanto a ideia que tenho pode estar errada. o que as pessoas encontram naquela feira é o que encontram nos centros comerciais, porque são os mesmos que podem pagar os destaques. parece-me que se fosse possível alargar a pequenos editores e livreiros- que de pequenos têm muito pouco, já que dominam a coisa e acabam por dar a conhecer livros bastantes bons que não dominam os tops, as revistas da "especialidade", ou aparecem em tudo o que é "blog literário". concordo em parte com a questão de que o que interessa é ler, mas acima de tudo com o ler melhor (sei que esta seria uma discussão ilimitada) ;)

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    1. Tens toda a razão: deve fomentar-se a leitura, mas não a qualquer custo. Num mundo ideal, as pessoas deveriam ler tudo e ter capacidade crítica para distinguir o bom do mau. No mundo que temos, as pessoas ou não lêem ou lêem o que não presta.

      Repara: sou a primeira pessoa a dizer que temos de mostrar o que é bom, que temos de dar a ler o que tem qualidade e não o primeiro livro que apareça à frente. Mas também já percebi que assim como lutar contra moinhos de vento não é coisa de muito juízo, esperar que dentro de cada um exista um leitor selectivo e exigente é quixotesco de mais (até para mim).

      Eu sei que um bom leitor sabe onde deve ir. Sabe que na Rua da Anchieta se vendem preciosidades ao sábado de manhã; sabe que a Calçada do Combro está pejada de alfarrabistas; sabe onde dirigir-se para obter aquilo que quer. Mas muita gente não sabe nada disso e não lê nada a não ser o que recebe ou aquilo que compra quando os livros se lhe põem debaixo do nariz. A esses a Rua da Anchieta, os alfarrabistas e outros do género não importam um caracol. Importa-lhes tropeçar nos livros.

      E agora pensando pelo outro lado: as editoras (já nem falo nos grandes grupos) precisam de vender para subsistirem. E uma coisa de que nós, leitores viciados em coisas boas, tendemos a esquecer-nos é a de que por vezes eles também precisam de vender o que é menos bom, mas que vende, de modo a terem como editar o que é bom e vende pouco. Sabemos todos que o mundo ideal é um e que o mundo real é outro. As editoras deitam cá para fora os livros que ambicionamos ler e mais umas toneladas de papel bom para queimar. Mas as editoras são empresas, são um negócio e para as editoras independentes que resistem, qual aldeia gaulesa, aos gigantes grupos editoriais, estas feiras fazem falta, nem que seja para vender aquilo que os bons leitores nem podem ver à frente. Certamente que no meio de tanto bestseller haverá um tesouro para nós. É sempre assim. Quando vou à Feira do Livro de Lisboa, quase 90% do que vejo é caca para mim. Mas mexendo bem nas coisas, encontram-se 10% que valem a pena. Eu trago o meu livrinho, os outros, os que gostam de calhamaços que vendem como pão quente, compram também as suas coisinhas e saímos todos felizes. As editoras também porque venderam o mau (que geralmente é o que sai melhor, algo que diz muito sobre os nossos leitores) e uma parte do bom. Com o dinheiro feito, o mundo da edição vai continuando, novamente para o bom e para o mau, e a história repete-se.

      Por isso é que aplaudo estas iniciativas. Porque põem gente a ler e porque dão uns empurrõezinhos a um mercado do qual os bons leitores precisam. Além disso, mostra às pessoas que os livros importam, que à volta deles pode fazer-se uma festa, que não é difícil chegar-lhes (ainda que não sejam baratos).

      Tens razão: isto dava uma discussão imensa. A ver se me dedico mais ao tema numa futura quixotada. :)

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  3. a minha questão é que o leitor que não sabe procurar livros fora dos circuitos normais, nesta feira, muito provavelmente, também não sairá do que já conhece, porque as editoras/livrarias independentes não podem pagar o espaço. Assim acabam por perder tanto o livreiro ou editor, como o leitor. Que o livro é um negócio não me deixa perplexa, mas o aproveitamento de algumas entidades que se lembram de taxar ISBNs, e Pavilhões bem pagos não creio que isso seja um incentivo, antes pelo contrário.
    Vi que andaste por Madrid, por acaso tropeçaste na Alcaná e a Tipos Infames? (só conheço da rede mas tenho curiosidade)

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