terça-feira, 13 de setembro de 2016

Decisões

Camões dizia “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / Muda-se o ser, muda-se a confiança:”. De facto, tudo muda e isso implica que, em determinados momentos, decisões têm de ser tomadas, ainda que provoquem dores de cabeça e ansiedade sem fim.

Andei muitos dias sem contar-vos isto porque primeiramente tive de habituar-me eu à ideia. Acho que agora já o consigo fazer: depois de vários anos a trabalhar no mesmo sítio, a leccionar Português a tantos meninos e meninas que vi crescer aula após aula, decidi deixar o colégio. Estou, agora, à procura de trabalho, não necessariamente na área do ensino, mas estou à procura de uma oportunidade que me faça feliz.

Decidi sair porque considero que quando alguma coisa está de facto a fazer-nos mal, devemos deixá-la para trás e seguir em frente. Decidi assim, também, porque tenho o apoio dos meus que, dia após dia, assistiam a um cansaço acumulado, a um desanimo que só crescia, a uma tristeza que só podia desaparecer fugindo do que me fazia mal. Decidi desta forma porque acho que a nossa ética profissional e os nossos valores devem estar acima dos euros que nos pagam no final do mês. Ser professor não é fácil, mas ser professor em algumas instituições é ainda pior.

Aliás, depois de seis anos enquanto professora, tenho de dizer-vos que é uma profissão lindíssima, que nos enche de orgulho. Mas é, talvez, a profissão mais ingrata que conheço. Toda a gente é “professor de bancada”, toda a gente tem uma correcção a fazer à metodologia de um professor, toda a gente acha que o professor pode sempre dar mais um apoio, fazer mais um teste diferenciado, mesmo que já não lhe sobre tempo para nada, nem para dormir. E no fim, toda a gente acha que os professores são muitíssimo bem pagos para o que fazem, sendo que essa "toda a gente" não faz a menor ideia da quantidade de trabalho que o professor tem diariamente. Porém, também há lugares em que a própria instituição facilita a vida ao professor. E há outras em que quase parece que o professor é um preguiçoso que não quer fazer nada e que tem de ser posto a trabalhar (mesmo que seja em actividades que nada tenham que ver com a sua formação) seja como for.

Mas agora não é disso que falo. Partilho convosco este meu novo estado: o de desempregada. Não estou completamente feliz porque claro que quero trabalhar, mas estou certamente mais feliz do que estaria se continuasse onde estava. Diariamente procuro oportunidades e sei que acabará por aparecer qualquer coisa. Até lá vou dar explicações de Português (se conhecerem miúdos da zona de Lisboa, do segundo ciclo ao ensino secundário que precisem de explicações, de preparação para exames e provas de aferição, lembrem-se de mim e sugiram-me), até para não deixar completamente de lado o ensino que é coisa que está bem em mim. Todavia vou procurar outra vida, sobretudo ligada aos livros que é o que mais me faz feliz. 

Camões também disse, no mesmo poema, que “Continuamente vemos novidades, / Diferentes em tudo da esperança: / Do mal ficam as mágoas na lembrança, / E do bem (se algum houve) as saudades.”. Destes anos todos fica de tudo um pouco. E quando a balança fez descer mais o prato das mágoas do que o do bem, o caminho era só um. Mas como, de facto, tudo muda, também não haverei de parar assim tanto tempo. Outra mudança virá.

7 comentários:

  1. Desejo-te toda a sorte do mundo... Espero que seja desta que consigas a tua livraria de sucesso :) e se precisares de pôr as ideias no lugar podes sempre vir passar uns dias ao ALto Minho, que por cá há sempre espaço para mais um. Pode ser que um dia eu também consiga atirar tudo para o alto e dar uma volta ao mundo. Beijinhos

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    1. Obrigada. :) E que saudades do Alto Minho! Tenho de voltar lá e depressa. Seria bom que nesta curtinha vida que temos pudéssemos fazer o que nos dá gozo e nos deixa felizes com mais frequência do que aquela que os buraquinhos entre trabalhos permitem. Obrigada pelo apoio. :) Beijinhos.

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  2. É, sem dúvida, uma decisão difícil. Mas se achas que este foi o melhor caminho que podias tomar, só posso apoiar a coragem e a vontade de ser mais e melhor. Novas oportunidades virão =)
    ***

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  3. Muito boa sorte para esta nova etapa! Concordo tanto, tanto com o que disseste: também já fiz uma loucura e "mudei de vida" e acho que a vida é muito curta para não tentarmos ser mais felizes noutro lado. Beijinhos

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  4. Boa sorte! Só assim é que acabas por estar livre para encontrares algo que te faça feliz.

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  5. Foste corajosa ao resolveres sair sem teres outro emprego, mas há que mudar quando não se está bem.
    Leste este artigo sobre o ensino finlândes? É todo um outro nível. Para além de ser gratuito é muito descontraído.
    http://expresso.sapo.pt/internacional/2015-06-28-O-bom-aluno

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    1. Obrigada pelas suas palavras. De facto foi precisa coragem e admito que os primeiros dias foram muito duros. Apesar de tudo, é uma rotina que se perde para dar lugar à incerteza. Mas como as coisas iam, já não podiam continuar. Quando um aluno está desmotivado, é difícil fazê-lo esforçar-se. Contudo, é ainda mais complicado quando é o professor a estar desmotivado e o sítio onde estava desmotiva até o mais entusiasta dos profissionais.

      Ainda não li, mas obrigada pelo link. Vou lê-lo. Não directamente sobre ensino, mas sobretudo sobre educação de crianças, li há pouco tempo um artigo sobre a educação na Dinamarca e é quase tudo o que defendo e quase tudo o que em Portugal não se faz. Os nórdicos dão cartas nisto.

      Obrigada pelo comentário e volte sempre. :)

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