sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"

Nos últimos meses tenho sentido cada vez mais vontade de abandonar o ensino. Não porque não goste de ser professora. A verdade é que gosto de entrar numa sala e dar uma aula, mostrar aos alunos à minha frente alguma coisa que lhes era desconhecida até então. Gosto de ver a evolução pela qual passam desde o “não percebo nada” até ao “agora já sei”.

A minha enorme vontade de seguir por outro caminho deve-se à forma como os professores são tratados, à enorme carga de trabalho burocrático que têm, às pressões que sentem, às portas que se lhes fecham, ao respeito que merecem e que perdem sem se perceber porquê. Alguns dizem-me para procurar outro lugar e eu agora respondo que quero outro lugar, mas noutra profissão.

Em tempos fui livreira e fui muito feliz nessa altura. Tenho a certeza de que se voltasse a fazê-lo, inclusivamente num espaço meu, seria muitíssimo feliz. Bem sei que as livrarias hoje são os piores negócios do mundo, que as grandes empresas engoliram as pequenas lojas de comércio livreiro. Sei disso tudo, mas ainda assim era o que queria. Tenho a ideia e todos os dias ela tem batido com mais força no interior da minha cabeça. Não será tempo de prestar-lhe atenção?

Fiz trinta anos no ano passado e não vejo, honestamente, futuro para mim na profissão que escolhi para a vida. Não concordo com o que se passa nas escolas agora, não entendo que o professor seja visto como o pior dos males. Nada disto me entra na cabeça. Por isso, por maior que seja o amor à profissão, é impossível não sentir uma enorme frustração e tristeza por aquilo em que o ensino tem vindo a tornar-se. Ensinar continua a ser o melhor do mundo. O resto é puramente exasperante.

Por isso tenho vivido os últimos vezes com duas ou três ideias a martelarem-me por dentro: “tenta isto”, “tenta aquilo”. A frequência destes pensamentos aumenta cada vez que o dia corre mal e isso tem acontecido muito amiúde. Pode ser neura, pode ser do tempo cinzento ou mesmo das últimas alterações feitas na área da educação, mas parece-me que devo ouvir-me melhor. Talvez desta vez tenha razão.

2 comentários:

  1. Um dos meus melhores amigos é professor e vejo nele o mesmo desalento que descreves. Sinceramente, acho mesmo que devemos tentar seguir os nossos sonhos e a nossa realização, dentro do limite do razoável. Não é cliché e nunca é tarde - olha eu, estou sempre a mudar de país à procura de um sonho novo ;)
    Beijinhos e boa sorte!

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  2. Bem, eu sei que arriscar é difícil, principalmente nos tempos que correm, mas se quiseres abrir uma livraria em Viana já tens uma cliente :) Boa sorte!

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