domingo, 8 de dezembro de 2013

O velório mundial

Aos domingos de manhã costumo ver o programa "Eixo do Mal", que passa na Sic Notícias aos sábados à noite. Na última edição do programa, um dos participantes (Luís Pedro Nunes) disse, partindo do tema do falecimento de Nelson Mandela, que é incrível como uma rede social como o Facebook se transformou num enorme velório onde se sucedem os "RIP" de cada vez que alguém morre. Disse ainda que esta é uma prática que tem vindo a intensificar-se e que leva a uma espécie de ostracização daqueles que não participam nessa enorme manifestação de pesar a nível global.

Percebi perfeitamente o que quis dizer, na medida em que eu própria já o comentei outras vezes. Quando morre alguém conhecido (e nem precisa de ser tão conhecido como Mandela), há a tendência de se embarcar na onda de pesar e de espanto (frequentemente é mesmo isso) que subitamente surge. Vejo no Facebook muitos e muitos tributos, quase que em competição e, não raras vezes, apetece-me perguntar a alguns dos que entram neste campeonato: conheceste a vida desta pessoa? Sabes o que fez e como o fez? Sabes mais do que o seu nome próprio e o facto de ser sobejamente conhecido? Aposto que na maioria das vezes a resposta a estas perguntas seria mesmo um não, ainda assim lá fica o RIPzinho a assinalar uma pena que vem não sei de onde e dói não sei porquê, como dizia Camões.

É um fenómeno interessante, mas vazio, na minha opinião. Em tempos pré-facebookianos as personagens históricas, os actores, os cantores morriam e sabia-se disso. Tínhamos pena, mas não íamos ao jornal deixar uma mensagem de pesar. Hoje em dia as palavras voam mais longe, mas perdem importância e sentido. Mandela foi uma figura decisiva na história do século XX, mas quantos poderão, efectivamente, ir além deste facto? Provavelmente muitos menos do que os que se manifestaram nas redes sociais.

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