Gosto muito do argumento "Se eu não for praxada, não poderei vestir o traje académico.". Caríssimos estudantes universitários acabadinhos de ingressar no meio académico, acham mesmo, mas MESMO, que no próximo ano algum daqueles tipos que passam quase vinte e quatro horas dos belos cinco dias úteis da semana enfiados dentro de uma roupa que (não) deve cheirar a rosas ao fim de dois dias se lembrará se vocês foram praxados ou não?!
E mais: ainda que queiram usar o traje e que até queiram passar pela experiência das praxes, sabem que existe uma abissal diferença entre pintarem-vos a cara ou obrigarem-vos a rastejar na merda, a beber bebidas alcoólicas como se o futuro dependesse disso, a simular posições sexuais com gente que nunca viram na vida? Sim, existe uma enorme diferença entre cantarolar uns hinos à faculdade e aparecer em casa com verniz das unhas desde o pulso até à ponta dos dedos ou chegar diante de quem provavelmente vos pagará o curso cobertos de porcaria, com roupa arruinada, podres de bêbedos ou, pior, aparecerem na urgência do hospital porque a brincadeira que tinha tudo para correr mal correu mesmo muito mal.
O ensino superior constitui, de facto, uma das melhores fases da nossa vida. Ninguém vos manda encerrarem-se numa sala de aula e só saírem quando o curso terminar. Podem aproveitar o que a chamada "vida académica" tem para dar-vos, mas saibam que para lhe sobreviverem e para que não se percam pelo caminho há uma palavra mágica que de tempos a tempos deverão saber dizer: "não". Dizer "não" custa muito, especialmente quando proferido para quem nos é querido, como os amigos que fazemos nessa altura e muito mais quando estamos a dizer-lo a diversão, a bons momentos. Mas por vezes tem mesmo de ser, temos mesmo de abdicar daquela festa, daquela tarde de praxes, daquele dia inteiro no bar da faculdade, daquele jogo de cartas com amigos. É que, no fim de contas, não passaram o secundário a trabalhar para a média para ingressarem numa discoteca ou num parque temático: foi para ingressarem no ensino superior, numa universidade onde estudarão aquilo que escolheram. Se vos couber o pagamento do curso, lembrem-se de que não dizer o tal "não" quando é preciso, poderá consistir em atirar o vosso dinheiro pela janela. Se forem os vossos pais os responsáveis pelas propinas e pelos materiais, pensem que ninguém trabalha para aquecer e que diariamente há um esforço da parte deles para vos proporcionar o melhor. Ora, para os vossos pais o melhor não é, certamente, rastejar no meio da porcaria, beber até ao coma, ser insultado e humilhado por outros e, ao mesmo tempo, faltar às aulas que tão gentilmente vos pagam.
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