terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os meus queridos «cromos»

Estava para aqui a pensar no tema que havia de escolher para brindar os meus catorze leitores (sim, minha gente, o ritmo tem abrandado) e dei por mim a pensar no programa diário do Nuno Markl na Comercial, a «Caderneta de Cromos». Para quem vive noutro planeta, informo que o que o Nuno Markl faz é dedicar alguns minutos diários a coisas que a nossa memória deixou pelo caminho, mas que fizeram parte da nossa vida nas décadas de 70 e 80 do século XX. No meu caso, nascidinha em 1985, constato que  muitos dos temas de que ele fala fizeram parte da minha infância. De alguns já não me lembrava, de outros tinha saudades e pensava ser a única a recordá-los. Com o seu programa fiquei a saber que o que não falta é gente nostálgica que recorda com saudade brinquedos, desenhos animados, alimentos, séries, canções, anúncios, personagens e tantas outras coisas que estiveram na ribalta há mais de vinte anos.

Ao pensar nisto, decidi que hoje iria recordar aqui no blogue algumas coisitas das quais tenho saudades e que fizeram parte da minha meninice e talvez da vossa, meus queridos catorze leitores. Ora então vamos a isso?

Comecemos pelo saudoso amigo peludo Alf, um extraterrestre que caiu em cima da garagem de uma típica família americana e que por lá ficou a viver, a devorar tudo o que apanhava pela frente (o gato dos Tanner escapou por um triz, diga-se), a fazer astronómicas contas telefónicas e a causar estragos irreparáveis na casa onde vivia. Acho que na altura em que a série passou (finais da década de 80) desejei, com todas as forças do meu ser, que um Alf peludinho como aquele caisse no telhado cá de casa. Mas também, quem não quereria aquele extraterrestre ternurento e destravado a dar sonoras gargalhadas diariamente no seu lar? Eu sei que queria, mas nunca nenhum se despenhou no meu prédio. Pouca sorte.


De vez em quando recordo-me de uma revista que recebi na escola e que tenho muita pena de não ter guardado. Lembro-me de que tinha umas bonecas destacáveis em papel e roupinhas, também de papel, que aplicávamos na frente da boneca e, assim, iamos mudando o seu visual. A figurinha era muito rústica e com roupas já na altura muito diferentes das que usávamos em 1990. Não guardei a revista mas retive o nome da bonequita: Holly Hobbie. Creio que os textos estavam todos em inglês e, portanto, nunca cheguei a perceber o que lá estava escrito, já que quando aprendi as primeiras palavras nessa língua, a revista já tinha desaparecido havia muito. Contudo, diverti-me durante horas com aquela figurinha de papel que tinha tantas roupinhas diferentes. Pela sua aparência arcaica (a anos luz das exageradamente sexys bonecas de hoje), criávamos um mundo perfeitinho de meninas que tomavam chá e regavam flores. Uma seca para as miúdas de hoje, mas um gozo enorme para nós. Aí fica a Holly Hobbie, para quem não se lembra. Ah, a cara via-se-lhe poucas vezes, parece-me.


E no que à paparoca diz respeito, durante os primeiros dois anos e meio de escola primária (na qual entrei em 1991) a minha mãe ia levar-me o lanche ao recreio. Aqui o, na altura, pisco não conseguia comer durante o intervalo o lanche que a escola já na altura fornecia a toda a gente. Então ela levava-me um bolinho, ou um donut, ou um bollycao (tudo coisas docinhas e deliciosas!), dos quais eu comia aproximadamente 1/5. Era realmente um pisco, ainda que amasse aqueles lanches memoráveis. Recordo-me do dia em que a surpresa consistia numa caixa de donnettes, da qual não devo ter comido mais do que dois. Mas não interessa.  Hoje lembro-me com saudade desses tempos em que o intervalo era tempo de brincadeira e de doces. Ah, e note-se o seguinte: como eu comia sempre pouco, a minha mãe partilhava o restante com um menino da minha sala que não podia receber miminhos destes. Boa, mãe!


Alguém se recorda do Spirograph? Era um jogo que nos punha a desenhar espirais em cima de espirais e a fazer aquilo que na altura seria uma obra de arte às voltinhas. Basicamente consistia numa série de encaixes em plástico onde colocávamos uma folha de papel. Depois, fazíamos uma roda dentada com furinhos (onde enfiávamos o bico da caneta) girar dentro de uma armação circular também ela dentada. O resultado eram desenhos deste tipo:


Fiz várias deste género e mais elaboradas, mas nunca fui grande coisa a desenhar espirais. Às tantas o braço descarrilava, os dentinhos da roda deixavam de encaixar na armação onde deviam girar e pimbas: um desenho que prometia ser qualquer coisa acabava feito em coisa nenhuma. Devo dizer que guardo e guardarei para sempre o meu Spirograph, oferecido pelo meu pai num qualquer aniversário. Pode ser que os meus filhos venham a ser melhores do que eu na nobre arte de desenhar espirais.

Durante anos, para aí desde 1990, o meu brinquedo preferido foram as pecinhas da Lego e as possibilidades infinitas de entretenimento que garantiam. E, com alguma nostalgia, lembro-me perfeitamente de que foram estes bloquinho os últimos brinquedos com que brinquei, antes de decidir que já era crescida demais para isso. Quando teria uns cinco anos, o meu pai (ele dava-me os brinquedos e a minha mãe dava-me a roupa) ofereceu-me uma caixa da Lego que eu ainda hoje guardo e de que não me desfarei nunca. Era uma caixa fabulosa já que as suas duas tampas amarelas serviam de base às construções que podíamos fazer. Para além dos blocos normais em vários comprimentos, a caixa continha portas e janelas, um menino (com o qual comparo ainda hoje muita gente que conheço...), uma hélice, peças com olhinhos, uma árvore e mais uma série de coisinhas fixes. Muitas vezes pedi eu à minha mãe que recriasse as casinhas que vinham reproduzidas na caixa de cartão que servia de embalagem à caixa de plástico. E quantas vezes lhe pedi eu que contasse as peças para ver se não tinha perdido nenhuma. Foram horas e horas de brincadeira. Foi com as peças da Lego que comecei a dar aulas: reproduzia uma sala de aulas, ia buscar os coelhinhos e gatinhos que me saíam nos Kinder Surpresa e eis os professores e os alunos daquela escola em miniatura. Foi o brinquedo que mais feliz me fez.

(A caixa era exactamente igual a esta.)

E antes que vocês me mandem calar, digo eu que hoje fico por aqui nas memórias de infância. É incrível como o tempo remete estas pérolas para o fundo da nossa memória, mas ainda é mais fabuloso o facto de bastar apenas um esforço para recordarmos quase tudo aquilo que tão feliz nos fez. Estes são os meus «cromos», os que eu gostaria de colar numa caderneta para evitar um esquecimento definitivo. Vocês terão os vossos e se pararem para pensar um pouco nos brinquedos ou nas bolachas que vos fizeram felizes quando eram pequenos, vão ver que passarão uns momentos tão agradáveis como os que eu vivi ao recordar todas estas coisas.


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