quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O cheiro do Outono


Moro numa zona improvável. É improvável que alguma coisa nestes arredores seja realmente agradável. Não o são os carros, não o é o fumo, não o é o barulho, não o são as paredes altas e feias dos prédios que arrumam tanta gente, dia após dia, uma vida inteira. Aqui é improvável que algo de inesquecível exista, se nós não o fizermos. Contudo, desde há onze anos que noto que há um cheiro que só existe aqui e em mais nenhum outro lugar: o cheiro do café que se torra.
Em Outubro e Novembro, esta zona enche-se deste cheiro que durante muito tempo julguei ser o do pão quente. Depois o meu pai esclareceu-me e explicou-me que era o do café a ser torrado numa fábrica aqui perto.
Este cheiro tem convivido comigo Outono após Outono. Faz parte das minhas memórias mais alegres e ilustra as minhas memórias mais tristes. Adoro este cheiro quente que me envolve e em que, provavelmente, não muitos mais repararão. A verdade é que existe e é das coisas que mais adoro no mundo. No meu mundo, pelo menos.

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