quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O cúmulo

Descobri o cúmulo da parvoíce no outro dia. Acho que todos vocês devem ter ouvido qualquer coisa sobre a decisão judicial de impedir uns pais de publicarem na internet fotografias da filha. Ora bem, numa página de facebook com que me cruzei, uns génios da lâmpada publicaram um suposto aviso das autoridades para que os pais evitem colocar fotos dos filhos menores de idade nas redes sociais. Até aqui tudo bem e tudo continuaria bem se, um pouco mais abaixo na página, os mesmos génios da lâmpada não tivessem publicado fotos do filho... em fato de banho.

Tirando uma paragem cerebral das fortes, o que pode justificar isto? Além de achar que não é preciso tribunal nenhum vir proibir aquilo que, logo desde o início, devia fazer parte do bom senso dos pais deste mundo, que moral tem esta gente para espalhar uma mensagem que nitidamente não cumpre?

Se calhar sou um bocadinho suspeita nestas minhas opiniões já que a minha relação com as redes sociais é um pouco estranha. Há uns dias lia um artigo em que alguns psicólogos afirmavam que um casal que não é amigo no facebook tem algo de errado. Pois bem, eu não sou amiga do meu moço no facebook e levamos a vidinha juntos há uma década e uns picos. São escolhas: se fazemos parte da vida um do outro em praticamente tudo, que mal tem ter aquele cantinho só nosso? Estamos condenados só por isso? Não acho nada e até acredito que, talvez, se fôssemos amigos nas redes sociais, teríamos um ou outro arrufo que assim não temos.

Também não tenho no meu facebook ninguém, mas mesmo NINGUÉM, relacionado com a minha vida profissional. Já fui gozada por isso e não quis saber. Assobiei para o alto e continuei assim, exactamente como estive sempre. O princípio é o mesmo: se passo tantas horas por dia com aquelas pessoas, se ao vivo partilhamos tantas coisas, por que motivo também tenho de partilhar com elas aquilo que nada tem que ver com a minha profissão e que se prende muito mais com os (poucos) momentos de lazer que tenho? Ninguém me compreende, mas no mesmo artigo que aqui referi, um dos testemunhos abordados era tirado a papel químico do meu: na rede social, nem o cônjuge, nem os meus colegas de trabalho.

Relativamente a fotografias, minhas há pouquíssimas no facebook. E qualquer fotografia que me pareça mais reveladora nem sequer no blogue aparece. Para quem nunca reparou, até os gatos aparecem meio escondidinhos. Se sou assim com eles, imaginem quando tiver filhos? 

Não compreendo hoje, como nunca antes consegui compreender, esta fixação pela imagem, esta necessidade de mostrar o que se faz ao longo do dia. Conheço alguns casos em que a tara é de tal forma evidente que soa a doença, a narcisismo, a vontade de aparecer e de ser apreciado. Mas, enfim, quando publicam fotografias de si mesmos, ainda vai. Agora, publicar sem autorização as de outros ou, muitíssimo pior, publicar fotografias de crianças parece-me francamente reles. Assim como me parece absolutamente idiota a onda de indignação devido à decisão do tribunal. Muitos disseram que os pais é que sabem o que fazer em relação aos filhos, que o tribunal não tem nada que ver com isso... Deveria ser verdade se existisse bom senso, mas não existe (recordem o que vos disse: alguém publica um conselho das autoridades sobre a não publicação de fotografias dos filhos e umas publicações abaixo esta mesma pessoa tem o filho em calções). E sejamos honestos: a quem interessam essas fotografias publicadas senão aos mesmos que as publicam? Querem partilhá-las com a família? Façam como faziam os meus pais nos anos oitenta e noventa: façam um álbum (físico) e mostrem-no a quem quiserem. Agora, na internet, independentemente dos cuidados todos que tenham, independentemente de só terem adicionadas nas redes sociais pessoas que conhecem de facto, uma coisa devem ter sempre presente na memória: uma vez online, para sempre online. Em que mãos e sob que olhos é que não sabemos.

3 comentários:

  1. Não podia concordar mais. Eu também defendia o bom senso até perceber que realmente não é coisa que abunde por aí...

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    1. Acho que o bom senso morreu. Agora tudo é desfile, exibição, e nem se pára para pensar nas consequências de tanto exibicionismo.

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  2. Se os pais soubessem o que fazer em relação aos filhos, o tribunal de família e menores andava às moscas... mas não, infelizmente, está apinhado de processo, alguns, que até faz doer o coração. Acredita que é o pior dia para se estar no dia do pai, e isso já me aconteceu.
    Se os pais se querem mostrar, muito bem, nem que estejam nus, é uma escolha sua, mas as crianças têm que acatar o que os paizinhos dizem, porque não têm voz. O bom senso foi pela pia abaixo...
    ****

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