Durante as férias li este livro de Donna Tartt que, embora tenha sido publicado recentemente pela Presença, foi escrito antes do famoso O Pintassilgo. A história envolve seis amigos universitários e dois homicídios, sendo que um leva a que o outro aconteça. O segredo dos crimes ficará nas mãos desta meia dúzia de pessoas que tem a uni-los o facto de todos frequentarem as mesmas aulas de Grego com um excêntrico docente que escolhe criteriosamente os poucos alunos que aceita ensinar.
Assistimos ao longo da narrativa ao conhecimento das personagens, ao crime e às dificuldades que cada um terá para lidar com o que sabe. O leitor percebe que a história partilhada que une aquela meia dúzia de pessoas minará também as suas relações e que o futuro promissor da maior parte deles (já de si meninos endinheirados que podiam fazer o que quisessem da vida) ficará comprometido devido a esta história secreta nascida de escolhas pouco consensuais.
Se há livro ao qual ficamos irremediavelmente agarrados, será este. Por um lado parece um policial, mas não me parece que chegue a sê-lo. É mais uma história sobre seres humanos e a forma como reagem ao remorso, à pressão e à desconfiança. Sim: é que se no início do texto parece que cinco das personagens estão unidas por inabaláveis laços de confiança, haverá um momento em que o facto de um segredo muitíssimo importante ser do conhecimento de vários elementos levantará a semente da discórdia. Um começa a pensar que o outro o quer prejudicar e, como em tudo o que envolve homens e mulheres, torna-se impossível para as personagens conseguirem ter a certeza de que os amigos estão a ser verdadeiramente honestos, revela-se extremamente difícil acreditar em tudo o que dizem e não fazer leituras próprias do que fazem. Por isso a tensão vai crescendo até ao momento final em que alguma solução, por mais desesperada que seja, terá de surgir. É, por isso, um livro excelente para dias de ócio em que temos várias horas pela frente para dedicar a este mistério, ao professor de Grego que encontra grande beleza na morte e às personagens que parecem estar fadadas a uma decadência que contraria o berço de ouro e as oportunidades que lhes foram dadas.
Mas, e infelizmente este "mas" começa a fazer sentido para demasiados livros, a quantidade de gralhas que a Presença deixou passar é de pôr os cabelos em pé. É lamentável o pouco cuidado que hoje existe com a revisão de texto, como se fosse algo pouco importante em que não vale a pena gastar tempo e tostões. Contudo, e mesmo que assim não fosse, estamos a falar de um volume que é vendido por mais de vinte euros e que consegue apresentar-nos advérbios terminados em "-mente" (que há décadas que não se acentuam) com um terrível acento agudo. Há letras trocadas, há letras em falta, há erros de translineação... Enfim, o que vale é que o texto é, de facto, muitíssimo cativante, pois se assim não fosse, pela pobreza do tratamento dado à revisão, o livro seria largado em três tempos.
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