A propósito daquilo que desrespeito totalmente, daquilo que abomino, daquilo que vejo mais do que gostaria e a que preferi virar as costas antes de também eu me tornar, molemente, como a água:
“Por mais que me esforce não consigo compreender como há bichos humanos que só se comprazem em lidar com animais de músculos de cera e colunas vertebrais de arame, sem personalidade, sem cor, sem reacções - apenas lambe-botas com a alma cheia de ecos dos nossos sins. Qualquer coisa de semelhante à água que se adapta molemente a todos os feitios e mesmo quando endurece, quando gela, ainda conserva a forma da última vasilha.”
Excerto do conto “Insónia”, in O Mundo dos Outros, de José Gomes Ferreira
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