Esta saga de John Galsworthy está esgotada, mas encontra-se facilmente em alfarrabistas (está à venda na Ulmeiro, em Benfica, por exemplo). A Família Forsyte é composta por três volumes e depois há mais três com o título Os Novos Forsyte. O autor, John Galsworthy, venceu o prémio Nobel da Literatura em 1932, distinção para a qual a saga desta família contribuiu bastante.
Só ainda li o primeiro volume. Todavia, por vezes, ler o primeiro volume chega para perceber que aquilo não é para mim e desistir. Isso não vai acontecer neste caso e vou continuar a leitura desta saga (ainda que não pretenda ler os três livros de uma assentada). Como o próprio título indica, quem protagoniza esta obra é uma família de classe alta em Inglaterra, uma família muito apegada à propriedade, à posse de coisas. Um dos protagonistas deste primeiro volume, subintitulado “O Proprietário”, é Soames Forsyte, um dos membros desta família e alguém que leva a ideia de propriedade tão a sério que faz da própria esposa uma possessão sua. O que o une a ela não é propriamente amor, é mais a ideia de ser ele quem a tem, ser ele quem a pode exibir e causar inveja através dela. Em torno desta personagem gerar-se-á um conflito que fará avançar a acção e o desenrolar deste mesmo conflito vai mostrar-nos o carácter dos diferentes membros desta enorme família (tão grande que a edição fornece uma árvore genealógica). O narrador subjectivo e omnisciente é extremamente irónico e aproveita até as mais pequenas acções do dia-a-dia para mostrar ao leitor como são estes Forsyte. A forma como lidam uns com os outros, como tratam os animais, a importância que dão às coisas em deterimento das pessoas, a preocupação com as aparências e com o que os outros possam pensar, o modo como sistematicamente atribuem preços às coisas e como só depois de o fazerem conseguem perceber se elas valem a pena ou não, a própria rivalidade entre os membros da família são aspectos narrados com grande ironia e ajudam o leitor a perceber que há dois tipos de pessoas no mundo: os Forsyte e os outros. Aliás, é mesmo isso que o narrador pretende: mostrar que este tipo de pessoas são algo à parte, alguma coisa de diferente, referindo sempre quais são as características que fazem destes homens e mulheres Forsyte uma categoria diferente dentro do conjunto das pessoas. Ora, quando isto sucede num livro, a melhor forma de mostrar a diferença é pelo contraste com personagens que não são como eles. Algumas personagens em particular, que não são originalmente Forsyte, acabam por fazer sobressair o que de mais mesquinho existe naquela família de classe alta.
A julgar pelo primeiro volume, a história promete e a saga vale mesmo a pena. Seria bom que a Livros do Brasil, que agora ganhou novo fôlego, reeditasse esta obra. Bem sei que é uma empreitada imensa, mas vale a pena porque para quem gosta de histórias familiares em que, mais do que um indivíduo, importa a família como um todo e a sua capacidade de agir em uníssono, procurando fugir a tudo o que descomponha a sua harmonia, esta saga é o ideal.
Nota: A imagem da capa saiu da página da Wook, ainda que esta saga se encontre esgotada.
Já aprendi qualquer coisa hoje, ouvi a expressão "família forsyte" toda a vida e nem sabia a origem nem como se escrevia.
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