Acho que já falei do Kindle umas duas ou três vezes neste blogue. Para quem não lê, o Kindle (ou outro e-reader é mais ou menos o mesmo que apanhar a azeitona, ou seja, não fazem ideia do que seja), mas para quem gosta de ler, isto dos ebooks dá que pensar e gera geralmente uma espécie de batalha: livros em papel versus livros digitais.
Já dei a minha opinião sobre isto tudo e não vou massacrar-vos com ela novamente. Convivo perfeitamente com os livros em papel e com os outros. Não vejo aquele anunciado fim dos livros tradicionais, acho que não acontecerá mesmo e não tem de acontecer. Podemos ter o melhor dos dois mundos. Admito que prefiro os livros em papel porque acho que a concentração na leitura é consideravelmente maior, mas não deixo de ler no Kindle. Principalmente quando tenho acesso a livros que não se encontram disponíveis nas livrarias ou quando se trata de histórias que gostaria de conhecer, mas não tanto que desejasse gastar muito dinheiro nesses livros.
Agora, além da questão da concentração na leitura, os e-readers têm um defeito que com os livros em papel não costuma verificar-se: no Kindle eu não vejo lombadas e estas, parecendo que não, são muito importantes. Quando preciso de escolher um livro em papel dos muitos que povoam as estantes cá de casa, olho para as lombadas. Percorro as prateleiras com o olhar, vou vendo os títulos, os autores e tenho uma visão bastante completa da minha biblioteca. Com o Kindle isso não acontece. Tenho-o organizado por colecções: Literatura Portuguesa, Literatura Estrangeira em Português, Fantasia, Biografias, por aí fora. Mas o chato é que quando entro numa colecção só vejo títulos. Passo as páginas e são títulos e títulos. Sinto-me assoberbada com palavras, pois ao chegar às últimas páginas da colecção já não me lembro dos títulos que vi inicialmente. Não há uma visão de conjunto, a mesma que se tem quando paramos a olhar para as estantes físicas e conseguimos abarcar com o olhar as muitas possibilidades de escolha. Por isso, escolher o próximo livro a ler no Kindle pode ser tarefa infernal, sendo bem mais fácil numa biblioteca de livros em formato tradicional. Mais: se quiser saber do que trata um destes últimos livros, basta puxá-lo um pouco para fora da estante e leio a sinopse. No caso do ebook tenho de o abrir, ir até à posição onde há uma sinopse (se é que há sinopse) e depois decidir se prossigo com a leitura ou se encerro o livro. Repetir esta tarefa para vários livros cansa.
Ainda assim, mesmo sem lombadas, o Kindle é fabuloso pelas possibilidades que permite. Este ano, pela primeira vez, fui de férias sem um livro em papel. Para Madrid levei apenas o Kindle e foi lá que acabei de ler o Hombres Buenos, do Reverte e que comecei As Reinações de Narizinho. A bateria durou o tempo todo, nunca precisou de ser carregado, e como o ecrã é iluminado, nem precisava de luz acesa à noite, pelo que o moço podia dormir sem eu o perturbar muito. Portanto, como em tudo na vida, os e-readers têm coisas boas e coisas menos boas. O ideal é vivermos ambas as experiências: as que nos proporcionam os livros em papel e as que os outros nos proporcionam.
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