A leitura exige comodidade. Ponto. Para mim, não existe leitura se o livro que estou a ler não me oferecer essa mesma comodidade. É por isso que o trabalho de edição é fundamental e não pode ser descurado. Em livrarias, já deixei nas estantes (e até na secção de destaques) muitos títulos que até queria ter, mas que, ao serem folheados, mostraram um grafismo débil e, claro, incapaz de garantir a comodidade necessária para que a leitura aconteça. Tipos de letra cansativos (letras com serifa são, para mim, as melhores: poupem-me da Helvética!), tamanhos de letra muito pequenos, linhas muito longas ou muito curtas, espaçamento exíguo entre linhas, margens gigantes ou então quase inexistentes. Fora isso ainda temos as gralhas que, quando se tornam regra e não excepção, se transformam em cubos de gelo pelas costas abaixo do leitor. Nas leituras deste ano já encontrei dois casos verdadeiramente de fugir: um na Dom Quixote e um na Presença.
Lembrei-me disto porque estou, ao mesmo tempo que leio o Infância, Adolescência e Juventude, de Tolstói, a ler as Novelas do Minho, de Camilo Castelo Branco, numa edição de bolso feita há uns anos pela Bertrand. É muito incómodo ler leste livro porque as margens são mínimas e, para que tenham uma ideia, o simples acto de segurarem o livro faz com que os vossos dedos tapem uma parte das linhas. Mas como as margens na parte interior da folha (aquela que fica mais junto da lombada) também são mínimas, quase precisamos de partir a lombada do livro para conseguirmos ler o texto na íntegra. Ora isto é tudo menos cómodo.
O livro afiança, na capa, que é um best-seller (um atributo não necessariamente bom, mas que o Camilo aguenta na perfeição). Aquilo que me ocorreu é que para best-seller podia estar mais bem feito. Um livro que mal pode ser segurado sem se cobrirem letras e cuja lombada tem de ser dobrada para se chegar a uma parte do texto só pode ser best-seller na medida em que o preço baixe em proporção com a subida destas faltas de cuidados. É pena, pois estou a gostar das Novelas do Minho, ainda que lê-las neste suporte esteja a ser um pesadelo.
Nota: Por ironia, hoje o meu blogue entendeu que uma parte do primeiro parágrafo devia ter outro tipo de letra que não o habitual. Pareceu-me uma espécie de conspiração!
Nota: Por ironia, hoje o meu blogue entendeu que uma parte do primeiro parágrafo devia ter outro tipo de letra que não o habitual. Pareceu-me uma espécie de conspiração!
seria de pensar que com o preço dos livros em Portugal isso não acontecia :s
ResponderEliminarJá reparei que nos últimos livros que vão sendo editados que as margens vão crescendo e o espaçamento entrelinhas aumentando. Para não dizer que o tamanho de letra varia mesmo em livros da mesma coleção editados pela mesma editora.
ResponderEliminarTudo em nome do dinheiro?
O facto de as margens crescerem bem como o espaçamento entrelinhas aumentar não é necessariamente mau, especialmente se pensarmos em livros em que essas mudanças faziam tanta falta. Há vários factores que contribuem para influenciar o grafismo de um livro. O dinheiro é um deles e é importante. Mas depois há que jogar com o formato de livro que se quer, com o número de cadernos que vai ter e, assim, se vai ter folhas de guarda, se não vai, se inicia capítulos só nas páginas ímpares ou também nas pares... Se a ideia é fazer um livro de bolso, o grafismo tem de ser um. Se for um livro de tamanho maior, o grafismo será outro. O que não precisa de acontecer é esquecerem que os livros, além de se quererem baratos (é o que nós leitores queremos), querem-se agradáveis de ler. Estar sempre a levantar os polegares para ler o início ou o final de uma frase é desagradável, mesmo num livro de bolso que foi mais barato do que seria se não fosse assim tão pequeno.
EliminarJá notei isso das margens quase inexistentes e das letras do tamanho do bicho da fruta em edições antigas, daquelas que agora se compra em feiras de usados e assim. Não sabia que estavam a fazer novas edições nessas condições. Extremos. Se, por um lado, temos isso, outros casos há em que as margens e as letras são enormes, o que implica mais folhas e um custo geral superior para o consumidor =/
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O livro de Camilo Castelo Branco de que falei faz parte de uma colecção de livros de bolso. Assim, querem-se pequenos para que as pessoas que gostam deste formato de livros possam optar por comprá-los. Ora, para ser pequeno importa concentrar o texto num espaço de folha mínimo. Isso vai, não só, encurtar a extensão do livro como vai torná-lo mais barato para o leitor, que é o que se quer com um livro de bolso. O que acho é que não é preciso exagerar e deixar um livro com margens que fazem com que ao ler o livro tapemos parte do texto com os polegares que o seguram durante a leitura. A realização de um livro é um processo complexo no qual é necessário tomar muitas decisões, fazer muitas contas... Mas valia mais acrescentar mais um caderno a este livro de bolso e dar mais margem ao texto do que fazer como fizeram.
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