terça-feira, 6 de outubro de 2015

As Três Filhas da Senhora Liang - o balanço


Terminei ontem a minha primeira leitura de um romance de Pearl S. Buck e nem sei bem o que dizer-vos. Pelo que sinto depois de o ler, julgo que só posso crer que a autora é brilhante, pois nunca julguei que uma história com este tema (as mudanças políticas na China, o Comunismo, o modo como artistas e outros intelectuais viam as suas capacidades colocadas ao serviço do regime) ficasse a soar tanto dentro da minha cabeça. 

A história parece simples: a Senhora Liang, que participou das mudanças políticas do século XX na China, tem três filhas que vivem e estudam nos Estados Unidos. Subitamente, o governo apercebe-se de que o cérebro da sua filha mais velha (uma conceituada médica) tem de estar ao serviço da pátria e, por isso, ela é intimada a regressar à China, abandonando toda a sua vida no continente americano.

A filha do meio tem um namorado e convence-o de que devem casar e partir para o seu país de origem, onde deverá nascer o seu filho que será, então, mais uma riqueza para a China, contribuindo com o seu trabalho. Também os pais, ela música e ele cientista, servirão a pátria com o seu esforço. No fundo, há a ideia de chamamento a uma missão patriótica que todo o bom filho daquela terra não deve ignorar.

A filha mais jovem da Senhora Liang pára para pensar de tempos a tempos sobre a possibilidade de voltar para junto da mãe e de fazer a sua vida no país onde nasceu, colocando também o seu talento enquanto pintora ao serviço do seu povo. Só não o faz porque entretanto se apaixona por um pintor que vai recusar-se terminantemente a perder o que tem e a carreira que construiu num país livre para partir para um lugar que sabe que castrará a sua liberdade e criatividade. 

Deste modo, a história decorrerá em parte na China e em parte nos Estados Unidos da América. Um dos aspectos que mais me desgostou no livro foi a ideia, repetida até à exaustão, do indivíduo ao serviço de um bem maior para o qual todo o cidadão deve contribuir com o que tem e com o que sabe fazer. Isto é repetido e repetido e repetido ao longo do texto e torna-se aborrecido. Mas se pensar melhor, faz sentido: é que estamos a falar de um país preso dentro das mesmas ideias, que incute desde cedo na cabeça dos seus cidadãos a necessidade de todos trabalharem para o mesmo e de colocar o bem da pátria acima do próprio bem pessoal. Sob esse ponto de vista, a repetição compreende-se.

Acabei por ser incapaz de desistir do livro porque queria, PRECISAVA, de saber como terminariam as personagens, desde a Senhora Liang, passando por cada uma das suas filhas e pelos seus genros. Tendo em conta as imagens que cada uma formou sobre a China, as desilusões ou a felicidade que o país lhes trouxe, é imperativo saber como tudo acaba. Também queremos saber o que será da vida de Joy, a mais nova, que nunca chega a partir para servir a sua pátria. Mas acima de tudo, queremos perceber como conseguem ser tão humanas estas figuras de papel que se enchem de ilusão e que terão de confrontá-la com a realidade, convivendo depois com ela, já que fugir do país era quase impossível. Quase.

Nunca tinha sentido esta dicotomia relativamente a um livro. Metade do meu cérebro dizia “larga” e a outra metade gritava “continua”. A verdade é que foi impossível largá-lo sem saber como terminaria tudo e ainda bem. Pearl S. Buck tem uma obra muito fecunda, escreveu um número infindo de livros e julgo que depois deste quererei ler outros.

1 comentário:

  1. A leitura da obra de Pearl Buck sobre a China não pode prescindir a leitura da trilogia,na seguinte ordem: A boa terra, Os filhos de Wang Kung e Casa dividida. Pelo primeiro, ela ganhou o Nobel de Literatura

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