Há dez anos e um dia era assim e não podia melhorar. Lavavam-se as vistas de vez em quando, faltava-se a umas aulas para ir comer sundaes de chocolate, tínhamos conversas parvas e os dias iam correndo.
Há dez anos e um dia era assim, mas há dez anos, no dia vinte e dois de Maio de 2005 as coisas mudaram um bocadinho. Aquilo que não podia melhorar melhorou. A vida mudou, sim, mas para melhor porque se se mantiveram as gargalhadas, as maluqueiras e as aventuras com as amigas, a verdade é que entrou no caminho um amigo novo. Na realidade o maior e melhor amigo que alguma vez terei. E porque tenho uma sorte dos diabos (mesmo quando me revolto com o mundo e digo que não), esse melhor amigo começou nesse dia a ser o meu namorado. É-o até hoje e, por mim, por ele, por nós, sê-lo-á sempre.
Nesse dia, há dez anos, não o vi. Foi um Domingo, o Benfica sagrou-se Campeão Nacional e acabei no Marquês com uma das amigas a celebrar a vitória do meu clube (rival do dele). Nessa manhã, ele pediu-me em namoro no Messenger (lembram-se do Messenger? Tenho algumas saudades.), mas nada de nos encontrarmos porque, calma, o Benfica ia ganhar o campeonato nesse dia. Disse à minha mãe: "Mãe, tenho um namorado novo!", e expliquei-lhe quem era. A resposta foi "Coitado, nem sabe no que se mete."...
De facto, meteu-se em tais trabalhos que hoje, dez anos depois (e com o Benfica campeão outra vez...), vive comigo, faz festas no mesmo gato a quem eu faço festas, aguarda comigo a chegada da nova gatinha e celebra comigo este dia vinte e dois de Maio de 2015.
Estes dez anos foram um privilégio que a vida me deu. Foram a resposta a um pedido que fiz e que só posso agradecer até ao fim dos meus dias. O meu namorado é o meu melhor amigo, é a minha maior companhia, é o meu orgulho, é a melhor pessoa que conheço e o que aprendi com ele até hoje não tem limites. Se fui feliz nestes dez anos, a ele o devo. Se os momentos maus são hoje fracas memórias, a ele o devo. Se sou o que sou, se tenho o que tenho, em parte também lho devo. Em dez anos nunca discutimos, nunca perdemos tempo a zangar-nos, nunca precisámos de "dar tempos" (como parece que alguns vão fazendo) nem de olhar para outros lados. Nunca precisámos de desconfiar um do outro, nunca demos lugar aos ciúmes, nunca deixámos de ser quem éramos nem de fazer aquilo de que gostávamos só porque um de nós não queria. Não. Soubemos juntar as nossas vidas sem anularmos o que éramos antes do aparecimento do outro; sabemos respeitar-nos e respeitar as escolhas e gostos do outro; ele adora carros e bicicletas; eu adoro livros; eu fui com ele a encontros de automóveis e lojas de desporto; ele percorre a Feira do Livro ao meu lado. Ao Domingo ele sai para pedalar e eu preparo-lhe o almoço, depois de uma manhã de ronha na cama. À tarde estamos juntos e somos felizes.
Não o trocava por nada deste mundo, não mudava nada nele e dez anos depois sinto um amor imenso e um orgulho tremendo por saber-nos aqui chegados, com uma vida tão diferente daquela que tínhamos em dois mil e cinco, tendo tudo aquilo com que sonhámos durante tanto tempo. Foram dez anos palmilhados passo a passo, preenchidos com tantas coisas que o tempo passa a ser como no quadro de Dalí: diluído, fugidio... Seja como for, foram os melhores dez anos que podia ter pedido e ele é a melhor pessoa que já conheci e por isso...
Para ti, amor, dez anos volvidos, deixa-me dizer-te que viste sempre muito melhor aquilo que não fui capaz de enxergar. Se no oitavo ano gostavas de mim e eu fugia de ti (e isso foi há uns módicos dezassete anos...), agora tenho a certeza de que tinha de ser como é e não de outra maneira. Estes dez anos foram os melhores até agora. Daqui em diante como será? Bom, por mim será como durante tanto tempo te disse e que, no fundo, mantenho e manterei sempre:
"Para ti, meu amor, é cada sonho
de todas as palavras que escrever,
cada imagem de luz e de futuro,
cada dia dos dias que viver."
Carlos de Oliveira
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