Como os senhores da RTVE resolveram retirar do site os episódios completos da série Isabel (deixando-me sem ver os últimos sete da última temporada, o que me deixou à beira do colapso), tive de escolher outra coisa para ver e lá me lembrei de começar a seguir a enorme série Cuéntame Cómo Pasó. Esta série é o original no qual se baseou o Conta-me Como Foi, que passou há alguns anos na televisão portuguesa (RTP). Aliás, para quem viu a versão portuguesa, os primeiros episódios parecem mesmo tirados a papel químico da versão espanhola. Claro que ao ver a original, sinto algumas saudades das nossas personagens, da nossa língua e da nossa realidade que foi sempre sendo mostrada no Conta-me Como Foi.
Contudo, embora a série espanhola não tenha a sorte de ter uma Rita Blanco a fazer de mãe da família principal como nós tivémos, o Carlitos (o filho mais novo da família) é hilariante. E mais (sendo que isso é que me faz olhar para a versão espanhola com outros olhos): os nuestros hermanos fizeram render a série de tal forma que ela se inicia em 2001, retratanto o ano de 1968 e já vai, no presente, no retrato do que aconteceu em 1983.
Eu adorei o Conta-me Como Foi português. Vi muitas coisas que, não raras vezes, só nos livros de História me tinham aparecido. Mas ainda hoje não percebo a forma parva e abrupta como fizeram acabar a série. O Conta-me que por cá passou na RTP acabou com o 25 de Abril de 1974 e com a família que sempre havia vivido naquele bairro, a cujas alegrias e tristezas assistiramos, a encher um camião com os seus pertences para mudarem para um apartamento em Benfica que o Carlitos tinha ganhado num concurso. E puf, assim se sumiu aquela família, sem se saber como foram os tempos pós-revolução, sem se perceber muito bem o que aconteceu ao filho mais velho... Uma estupidez sem nome. Na altura correram muitos comentários desgostosos no facebook e ainda se imaginou que viria uma continuação, mas agora já se perdeu a esperança. No fundo, só merecemos rever o Portugal da ditadura, não nos foi permitido perceber como aquelas personagens e, no fundo, o país continuou a viver depois do fim da censura, da opressão, do medo. E havia tanto ainda para contar! A série tinha um elenco excelente e, nem que fosse até à década de oitenta, teria valido a pena continuar a contar uma história que não acabou, de certeza, na manhã do 25 de Abril de 1974. Muito menos com uma família a enfiar-se num camião para mudar para um apartamento que nem chegámos a ver. Quem fez a série esqueceu-se, provavelmente, de que os espectadores também se afeiçoam às personagens e aos locais por onde elas se movem. Mais ainda quando o que está a ser representado ajuda a perceber aquilo em que nos tornámos. E para muita gente, como os meus pais e outras pessoas mais velhas, aquela série permitia recordar e rever objectos, usos, costumes e tradições que havia, mas que acabaram perdidas no tempo durante a viagem daqueles tempos para os de agora.
Por isso, mais uma vez e com pena, digo que os espanhóis são muito mais inteligentes que nós nestas coisas. Souberam imaginar a série e mantê-la. Mas mais ainda: souberam manter fiel o seu público, já que ainda hoje, catorze anos depois do primeiro episódio, ela é vista por milhares de pessoas e continua a ser um dos programas mais queridos da televisão espanhola. Aquelas personagens, a sua vida, tornou-se algo a seguir e, por haver ainda tanto que contar, a série não morreu com Franco, como a nossa desapareceu com o fim da ditadura. O Cuéntame Cómo Pasó permanece e dá uma visão mais abrangente do que foi a vida quotidiana espanhola desde 1968 até, pelo menos, 1983. Aliás, nisto de saber aproveitar o que se tem, é dar um pulinho à página do canal RTVE para ver-se como, de facto, os espanhóis produzem séries variadas, muitas baseadas na sua história ou na sua literatura. Nós por cá fizemos umas quantas séries de jeito (A Ferreirinha, O Conde D'Abranhos, Os Távoras...) e depois passámos a achar que nas telenovelas repetitivas, com uma personagem muito boazinha e uma muito má que lhe faz a folha até ao último capítulo quando toda a gente casa, tem filhos e tudo acaba em bem, é que estava o ganho. Aburricamos, pois, a televisão e as gentes, não aproveitamos a nossa História que é tão rica de histórias, ignoramos a nossa literatura (para depois vermos os brasileiros, muito mais espertos que nós, adaptarem O Primo Basílio, Os Maias, A Relíquia...). É assim que somos e dá alguma pena.
Portanto penso que continuarei com o Cuéntame Cómo Pasó, visto que o Conta-me Como Foi desapareceu no seu melhor momento para não mais voltar. Sendo as memórias, especialmente as de infância, algo que sempre será visto com carinho e nostalgia, séries como estas teriam pernas para andar se fossem bem feitas e se não morressem na praia, como aconteceu com a excelente versão portuguesa, Conta-me Como Foi, da qual eu tenho muitas saudades e sobretudo muita pena pelo fim indigno que lhe deram.
Tiraram a Isabel do ar? Oh não, também me faltavam ver meia dúzia de episódios! Mas que ideia infeliz.
ResponderEliminarFiquei furiosa. Andava a dosear os episódios para aquilo render mais e afinal... Ah e tal, direitos de autor. :(
EliminarComo assim direitos de autor? Aquilo não era uma produção da TVE?
EliminarTambém não sei. aquilo devia ter tanto sucesso que devem ter querido pôr a série a render em DVD... mas vou continuar a ir lá espreitar, não vá dar-se o caso de mudarem de ideias.
EliminarAh, e também era fã e seguidora fiel do "Conta-me como foi" :)
ResponderEliminarAdorava a série, mas quele final abrupto foi uma enorme desilusão. E com tanto que podia ser feito sobre as mudanças da vida das pessoas depois da revolução... Foi muito mau. Parece que a espanhola é um sucesso por lá. Já vou no séptimo episóDio da primeira temporada e já estou FÃ do miúdo que faz de Carlos. É muito engraçado. Mas a nossa Rita Blanco faz ali uma falta...
EliminarGostava tanto daquela série, acho que vou comprar os DVDs e um dia mostrar aos meus filhos. Mas tenho muita pena que não tenha continuado, também eu queria saber como tinha sido o depois do 25 de Abril..
ResponderEliminar