Ontem foi dia de ida inaugural à Feira do Livro de Lisboa. Começou logo com um momento hilariante que partilho convosco para que possam revivê-lo, se vos apetecer. Ora, iniciando a feira pelo lado direito, passo no Pavilhão da Lello e pergunto à senhora do stand o preço de uma bonita edição do Quixote que por lá estava. Ela berra para fora, para um senhor sentado ali ao lado, quanto era o Quixote e ele responde rapidamente «Mil euros!». Perguntei à senhora se eu tinha ouvido bem e ela, meio embaraçada (pareceu-me), disse que sim. Entretanto o senhor apareceu junto de mim e o que se seguiu é épico:
- Sabe, é uma edição muito antiga e já esgotada. - disse o senhor.
Eu ia olhando para o livro e ia achando que o corte frontal do livro estava demasiado branquinho para o livro ser assim tão antigo. E, enquanto mantinha o meu sorriso de quem precisava urgentemente de gargalhar pelo inusitado da coisa, o senhor ia continuando:
- Sabe, são gravuras feitas a chumbo, bla bla bla.
- Pode dizer-me a data do livro? - digo eu.
- Ah, ele tem uns setenta anos. E é uma edição rara bla bla bla... - continuava o senhor enquanto folheava o livro para trás e para a frente.
- Mas pode ver-me a data do livro? - insistia eu.
Ele continuava a falar e a passar as páginas do livro, mas nada de abri-lo na ficha técnica. E eu ia dizendo:
- Pode abrir na última página?
Ele continuava.
- Está bem, mas pode abrir na última página?
- Ah, sabe, eles não costumavam marcar os livros com a data.
- Mas pode abrir na última página? - insistia eu.
E ele passando as folhas e falando da edição que era muito antiga.
Até que a senhora que estava dentro do stand, a que me atendera em primeiro lugar, e a quem a paciência já parecia faltar, diz:
- Abre lá na última página!
Ele abriu e seguiu-se um silêncio constrangedor: o livro era de 1980 e ele pedira-me mil euros por ele, afirmando ser uma edição antiga e rara, com uns setenta anos. Olhei para ele e disse:
- Esse livro é de 1980, tem mais cinco anos do que eu e pede-me mil euros por ele?! Devia vir cá a ASAE!
E segui caminho. Nem queria acreditar no inusitado da cena. Aliás, tenciono contactar a editora e explicar o que aconteceu porque me parece de doidos. Pensava que estas tontices só aconteciam nos filmes e nas novelas. Bem, mas foi só o início da feira para mim...
Só vendo... Ainda se me dissesse cem euros, até conseguia perceber. Mas mil??? E assim, como quem pede dez euros. E depois querer fazer-me crer de que era uma edição muito rara, de que valia mesmo o dinheiro (e eu que só pensava que o homem era louco). Enfim... De doidos.
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