Andava a ler O Conde d'Abranhos, de Eça de Queirós, nos transportes públicos. Terminei-o hoje e mais uma vez aplaudo este nosso autor de língua afiada que conseguiu satirizar alguns vícios políticos, colocando-os na figura de Alípio Abranhos, o conde que dá nome à obra.
De facto, talvez tenha sido a obra de Eça onde encontrei mais recurso ao cómico. Desde logo a figurinha bajuladora do narrador, que relata situações muitíssimo desagradáveis nas quais o Conde esteve envolvido, mas que é incapaz de ver o que de errado existiu nessas situações. Depois, as peripécias políticas (e não só) vividas por Alípio Abranhos, que mais não é do que um tipo que não olha a meios para atingir os fins e que parece acreditar que o mundo existe para servi-lo, são maravilhosas. O momento em que tem de arrancar um prego das nalgas do futuro sogro é qualquer coisa...
É também maravilhoso ler as ideias políticas defendidas por este senhor que, julga ele, tem solução para acabar, por exemplo, com a miséria (trancar os pobres todos e tirá-los da vista dos ricos). O leitor chama-lhe jumento, mas o narrador vê como geniais as pobres ideias defendidas pelo Sr. Conde.
Quem não leu, deve ler O Conde d'Abranhos. Muito do que ali está não ficou no século XIX e ainda é encontrado nos nossos dias (como a dança entre partidos políticos...). Mas a graça com que Eça descreve esta figurinha permanece única e digna de uma boa leitura.
Nota: A imagem saiu daqui.
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