terça-feira, 18 de novembro de 2014

O pequeno demónio

Diariamente encontro no autocarro uma mãe que vai levar a filha à escola que, pelo que percebo, ficará algures a caminho do seu trabalho. A menina parece estar na idade de frequentar algures entre o quarto e o quinto ano do ensino básico. Em idade mental parece ter ano e meio. Ou menos. 

Já tive a magnífica oportunidade de assistir a tudo. Desde birras porque não quer estudar para um teste, a birras porque quer passar o caminho todo a jogar no telemóvel da mãe e ela não quer, a birras porque quer sentar-se num lugar muito específico, de preferência longe da mãe. Quando faz estas birras, a criatura torna-se muito parecida com aquilo que eu imagino que seja Satanás. Com uma voz grave que o aspecto físico não faria prever, imita em tom de gozo o que a mãe lhe vai dizendo, acrescenta um revoltado "caramba" a todas as frases, esperneia, insiste, insulta a mãe e
deixa, entretanto, todo um autocarro à beira da loucura. 

A mãe faz-lhe, normalmente, as vontades, mas às vezes (como no dia em que não lhe emprestou o telemóvel para jogar porque tinha pouca bateria) também lhe diz que não. E vê-se que a senhora se sente constrangida pela profunda falta de educação que a filha demonstra nessas ocasiões. No entanto, tenta brandamente calar o pequeno demónio, oferece até uma palmadita, nas geralmente não obtém sucesso nenhum. 

A menina está completamente viciada em jogos de telemóvel. Já toda a gente percebeu isto menos a mãe. As cenas que ela provoca só para que a mãe lhe passe o telemóvel para ela poder jogar são assustadoras. No entanto ali vai ela, num assento perto do meu, a jogar. Se a mãe não lhe empresta logo o telemóvel, temos insultos, guinchos e tudo e mais alguma coisa que a criatura não se priva de nada. E se por acaso há um dia em que a mãe não lhe passa o telemóvel, na maioria deles a exigência da menina é logo satisfeita. Está viciadíssima, disse eu, e a mãe cede-lhe quase sempre ao vício. É nojento. 

Portanto é esta a banda sonora matinal: a personificação de uma entidade demoníaca a fazer uso do seu poder de persuasão para conseguir levar a mania dela avante, e uma mãe cansada que se fica. Há maneiras piores de começar o dia...

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