Já não POSSO ouvir notícias sobre aquela aldeia que anda num virote por causa da mudança do padre. Não há um domingo de sossego! Não há domingo sem vir a bela imagem da população a fazer uma figura muito triste a enxovalhar o novo padre e a clamar em altos brados pelo pároco retirado da aldeia pela diocese. E já não POSSO particularmente ouvir alminhas dizerem que enquanto o antigo padre não regressar, não irão à missa.
Meus senhores, todos os anos milhares de professores (essas almas que ensinam os vossos filhos e netos e que são decisivos para a sua formação escolar, mas também cívica) rodam pelas escolas do país sem que haja o mínimo de respeito ou de consideração para com eles e para com os alunos que, frequentemente, saem a perder. Se não são os próprios a fazer barulho, não há uma alma que se digne a ir para a rua gritar pelos docentes que podiam garantir estabilidade ao ensino dos vossos filhos e netos. Mas eis que se vêem estes casos em que se grita por um padre, em que as forças policiais (que eu e todos pagamos) têm de deslocar-se para garantir a segurança do novo pároco... A mim isto prova-me que não andamos bem. Se existisse, de facto, fé, iam à missa com o padre antigo, com o padre novo, com um padre qualquer. O que se faz na igreja na hora da missa (e acho que para perceber isto não é preciso ser-se muito praticante) ultrapassa o «condutor» da cerimónia. Ou seja: vai-se pelo ritual de fé que ali acontece e não por ser o pároco A, B ou C. Dizerem que não vão à missa enquanto o padre que querem não regressar é hilariante porque demonstra até à exaustão que não vão à missa para rezar ou ouvir o Evangelho: vão pelo padre. Ponto.
Pergunto-me se as vossas crianças tiveram os professores colocados a tempo e horas. Pergunto-me se todos iniciaram o ano quando devia ser, sem serem prejudicados pela lotaria da colocação de professores. Como nunca vos vi de cartazes em punho a lutar pela manutenção dos professores do ano passado ou a reclamar pela falta de colocação de docentes nas escolas da zona, deduzo que tudo correu bem ou que ficaram satisfeitos com a rotatividade. Sois uns sortudos!
Agora, já que pelos vistos a aldeia ou vila ou o que seja não vai parar tão cedo com este comportamento, seria pedir muito aos canais de televisão para pararem de dar importância ao caso? É que o resto do país já está saturado de ver tanta luta por um mensageiro e a mensagem a ser desprezada por todos os que viram as costas à missa enquanto o seu desejo de voltar a ter o antigo padre de volta não se realizar. Luta-se tão pouco pelo que vale realmente a pena e depois temos isto... Uma amostra do que a fé não deve ser em horário nobre na televisão.
Sem comentários:
Enviar um comentário