quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O Último Livro: o balanço

Já li outros dois livros de Zoran Zivkovic e gostei de ambos. Contudo, este O Último Livro não me encheu de modo algum as medidas.

Sabemos, pelos elementos paratextuais antes de qualquer outro aspecto, que o elemento central deste romance serão os livros. Aliás, isso já é hábito nos textos deste autor e até aqui não lhe correu mal. Basta lermos as primeiras páginas para percebermos que, aos contrário dos contos de A Biblioteca ou do romance O Escritor Fantasma, o que aqui se encontra é um caso de polícia que se vai tornando mais complexo à medida em que se vai percebendo que no seio de tudo está um livro. Comecei rapidamente a perceber que a história se tornaria forçada e não me enganei. Não é fácil um escritor colocar um livro como arma no meio de um romance "policial" sem que depois resvale para o domínio do exotérico ou do absurdo. Convenhamos que não existem muitos Umbertos Ecos por aí a levarem monges à morte através das páginas de um livro envenenado. Ora, o problema é mesmo esse: em O Nome da Rosa existe uma explicação para as mortes. Ou melhor, há uma razão lógica para que estas sucedam num sítio tão improvável e de forma tão misteriosa. Contudo, em O Último Livro, e principalmente para quem já conhece a escrita deste autor, começa-se rapidamente a perceber que nada será assim tão lógico e que muito provavelmente vai dar-se uma estranha fusão entre realidade e ficção. Como esperava, não me enganei, mas não gostei.

Existem várias pontas soltas ao longo do romance, pormenores que parecem ter sido esquecidos e o final parece muitíssimo atabalhoado. Era preciso terminar o livro e fez-se isso de maneira a que ninguém percebesse o fim, dada a confusa explicação avançada pela personagem principal. Esta personagem, que é também o narrador, parece tudo menos um polícia, age mais como um deslocado do que como o responsável por uma investigação que envolve umas quantas vítimas. Enfim, não me convenceu.

Assim sendo e embora seja um daqueles textos que se lêem num instante, não me encheu, de todo, as medidas. Achei-o muito superficial, embora percebesse a existência de uma tentativa para que fosse uma história muito profunda sobre literatura e as fronteiras entre realidade e ficção. Talvez seja uma leitura adequada a esta altura do ano, mas a mim, que já li outros textos do mesmo autor, soube-me a pouco e, sobretudo, a um pedantismo de que não gostei. Dar lugar de destaque aos livros na literatura parece-me muito bem. Enfiar os livros de forma atabalhoada dentro das histórias sem que, depois, estas sejam coerentes ou perceptíveis até ao final é outra. Muito sinceramente, não aconselho este livro. Melhor será que experimentem os outros títulos do autor: são infinitamente melhores.

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