Acabei de ler num daqueles horríveis rodapés dos noticiários que um homem em Miami matou a mulher e colocou uma fotografia do cadáver no facebook. Não acreditei que tal coisa pudesse ser possível, mas lá está a notícia em páginas como a do Expresso e de outros jornais.
É assustador o ponto a que chegou o ser humano e é tremendo aquilo que algumas pessoas são capazes de fazer. Ao que parece, o senhor que fez o que referi disse no seu post, dirigindo-se aos amigos, qualquer coisa como "Vão ver-me nas notícias.".
Que mente consegue tirar a vida à mulher, colocar a foto no facebook e ainda propagandear o acto chamando a si a fama que o mesmo lhe trará? Como raio pode alguém querer para si este tipo de fama? É absolutamente doentio e traz de volta a questão que nos leva a procurar os limites das redes sociais, tão cheias de perigos e de más utilizações. Estas são, no fundo, mais um dos exemplos em que uma boa invenção passa a ser utilizada para maus fins. Ainda há poucos dias soube que havia quem aproveitasse as páginas de uma rede social para vender bebés. Todavia, acredito que a esmagadora maioria as pessoas utiliza o facebook e outras redes de forma inocente e correcta. O problema são sempre as excepções e ao que parece já não vão sendo poucas. Ouvimos falar de burlas, de redes de pedofilia, de roubo de dados e de outros crimes que acontecem porque andamos pelas redes sociais esquecendo que aquilo não é o nosso bairro, mas o mundo inteiro. Tudo o que colocamos no facebook ou em outras redes sociais deixa de ser nosso no momento em que é publicado. Temos mesmo de nos sujeitar ao bom senso de quem está do outro lado, infelizmente. E quem fala em facebooks e afins, fala em blogues. Já dei por mim a apagar muitas coisas que ia escrever neste blogue precisamente por achar que poderia ser demasiado pessoal. Sei que poderia ter uma página muito mais interessante do que esta, mas sinceramente prefiro que saibam quais os livros que leio e os que quero ler do que os sítios onde costumo estar. Preocupação a mais? Não acho. Gosto muito que visitem o blogue, mas gosto muito mais de me sentir segura. Não aponto armas a quem revela tudo, fotos incluídas, porém eu não o faço nem farei. Numa sociedade voyeurista isso pode prejudicar o número de visitas aqui da casa, mas não me interessa.
Como em tudo, importa saber lidar com aquilo que temos à nossa disposição. As redes sociais são, de momento, o maior exemplo de uma boa invenção que se pode transformar num pesadelo, como já disse. Ninguém pode, neste momento, garantir sem qualquer dúvida que a mulher assassinada em Miami não morreria se o facebook não existisse. Também não posso afirmar que a publicação da fotografia do cadáver na rede social não estivesse já na mente do suposto homicida tempos antes do crime. A verdade é que estas ferramentas existem e que nos dias de hoje assiste-se a uma busca pela fama efémera, pelos cinco minutos em que as câmeras apontam para nós, ainda que nos esqueçam imediatamente a seguir. Gilles Lipovetsky fala no conceito de "felicidade paradoxal" para explicar a nossa necessidade constante de consumo, de aquisição de bens. Eu atrevo-me a puxar esse conceito para o que vai sucedendo neste novo mundo em que a fama, boa ou má, é tudo.
Quanto a vocês não sei, mas eu considero tudo isto muito assustador. A falta de limites e de valores é, provavelmente, das coisas que mais me assustam. Já não sabemos com o que contar e o que nos resta é mesmo tentar proteger-nos o mais possível sem que, contudo, a vida nos passe ao lado e deixemos de nos divertir. Oxalá este caso macabro traga mudanças na utilização das redes sociais. Já não sabemos viver sem estas janelas para o mundo, mas será que queremos ver de tudo através das suas vidraças?
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