Agora, em contagem decrescente para as três décadas de vida, li outro romance de Jane Austen: Emma. A edição não é das melhores, mas ainda nenhuma editora fez uma recente deste romance. Parece que agora estão a reeditar-se vários livros de Austen, pode ser que este esteja previsto para a próxima fornada. Mas vamos lá então ao livro Emma.
O título do livro é o nome da personagem principal. Trata-se de uma jovem rica, que frequenta a boa sociedade lá do sítio, que não tem de preocupar-se com dinheiro e, consequentemente, com o casamento. Aliás, durante boa parte da narrativa ela apregoa que não pretende casar-se. Contudo, não deixa de pensar em casamento. Paradoxal? Não. Como Emma não está apaixonada por ninguém e como a sua situação económica não a empurra obrigatoriamente para um casamento, a sua maior diversão é servir de casamenteira para aqueles com quem convive e que estão em idade para isso. O livro começa precisamente com a referência a um matrimónio arranjado pela protagonista e que uniu a sua preceptora a um cavalheiro local, viúvo de longa data. O sucesso deste enlace veio a imprimir em Emma a ideia de que tinha de facto um significativo talento para unir casais e levar a matrimónios felizes. Assim, procurará continuar a interferir na vida de quem se puser a jeito para isso. A principal vítima será a pobre Harriet Smith, uma jovem sem posição social que Emma procurará moldar à sua imagem e para a qual tentará arranjar um par digno.
O que Emma não sabe é que isto de fazer dos outros marionetas, de tentar mexer nas vidas alheias até elas se tornarem naquilo que nós desejamos pode ter um lado mais obscuro e perigoso. A protagonista depara-se, em determinado momento, com essa mesma realidade: a manipulação da vida de outro acaba por interferir na dela e, porque é uma moça bafejada pela sorte, acaba por sair-se bem da enorme asneirada que criou. Mas podia ter corrido mal.
Aquilo de que gostei mais neste romance, tendo em conta aquilo de que me lembro de Orgulho e Preconceito, foi do facto de ser uma comédia de costumes na qual certos traços das personagens surgem acentuados. A Mrs. Elton é tão irritante, mas tão irritante que chega a ter graça. O próprio modo como são combinados os encontros, os bailes, como para tudo existe um protocolo imenso é digno de um sorriso por parte do leitor. A espontaneidade parece ser coisa de hoje. Naquele tempo, e pelo que o livro retrata, tudo era fruto de grande reflexão, desde o que se ia vestir até um simples convívio para o chá. Noto ainda os apontamentos de humor que o narrador vai largando ao longo do texto e que, em conjunto com o resto, servem para construir uma história bem disposta com uma protagonista mimada que tem a mania de que é esperta, mas que não é, ainda assim, a personagem mais irritante do romance.
Quando sair uma nova edição deste livro, aconselho-vos a lê-lo. É uma óptima leitura para o Verão porque o estilo da autora não é, de todo, cansativo ou pesado. Pelo contrário: a narrativa é clara, o narrador fornece-nos todas as informações de que precisamos para inferir o que virá de seguida e acabamos por ir percebendo tudo o que se passa, ao contrário da espertalhona da Emma que de tão sabichona que parece ser, acaba por não enxergar nada do que acontece à sua volta. Por tudo isso (e porque, afinal, falamos de Jane Austen) é um romance que merece se lido. Balanço positivo, portanto.
Passam-se umas belas horas na companhia deste livro. Vale a pena. :)
ResponderEliminarGosto muito deste livro, Tenho a edição inglesa, que por sinal tem uma bela capa.
ResponderEliminarEntre este e Orgulho e preconceito não sei qual me agrada mais, mas acho que talvez este.
Acho que também gostei mais deste, embora o outro merecesse uma segunda leitura, agora com a parvoíce dos vinte anos e a febre da amigdalite de parte. Este, enquanto algo parecido com uma comédia de costumes, pareceu-me mais divertido.
ResponderEliminarA capa da minha edição portuguesa é o horror dos horrores. Os ingleses fazem quase sempre capas deliciosas.