sábado, 25 de julho de 2015

"Eles só nos têm a nós"

Tenho a Senhora Gatinha cá em casa há pouco mais de um mês. Ora, contas feitas, um mês depois já lá vão mais de duzentos e vinte euros em veterinário. Entre vacinas, desparasitações e testes de Fiv e Felv, e hoje com uma consulta extraordinária devido a uma diarreia lixada que me estava a consumir a miúda (e da qual acabei a trazer dois medicamentos, um saco pequeno de ração e uma latinha de comida), já lá vai essa bela quantia. 

Digamos que se a isso somar tudo aquilo que já gastei com ela nos sacos de ração para bebé, nos comedouros e bebedouros e nas saquetas com molho para gatinhos, já lá vai uma conta espectacular.

Arrependo-me? Claro que não. Assim como nunca me arrependi de um tostão gasto com o Senhor Gato que, antes da chegada desta menina, passou exactamente um ano e meio a consumir-nos também uma parte simpática do orçamento. Acho que quando queremos de facto ter connosco animais saudáveis e felizes, aceitamos que tudo isto faz parte. E a verdade é que estes tipos peludos tornam-se amigos a sério, pelos quais fazemos tudo (até figura de parvos como quando, por exemplo, alteramos o tom de voz para falar com eles...). Para mim, ter animais em casa só faz sentido assim: assumindo o compromisso de tudo fazer para garantir-lhes bem estar e felicidade. Assumindo que uma vez nossos, serão sempre nossos. Assumindo que se por eles tivermos de fazer alguns sacrifícios, seja. Cá em casa, por exemplo, desde que o Senhor Gato chegou, deixámos de escancarar janelas. No máximo abrimos um ou dois centímetros de cada janela, mas nunca mais nos demos ao luxo de arejar a casa com tudo aberto. O medo de que ele se empoleire no parapeito e desapareça é demasiado e faz-me pensar que o preço de uma janela aberta e de mais um pouquinho de ar fresco pode ser um dos maiores sustos e desilusões da minha vida. Para mim, o Senhor Gato vale o sacrifício: gosto demasiado dele para fazer o que seja que o ponha em perigo. 

Há uns meses, ao tirar-lhe um nó do pelo, magoei-o e ele precisou de ser tratado. Chorei este mundo e o outro de tanta culpa que senti. Paguei sem pestanejar uma choruda conta no veterinário e não me arrependi de ter gasto aquele dinheiro com ele. Devido a essa despesa inesperada, deixei de comprar umas coisas, porém com eles é assim: vê-los bem é uma necessidade nossa, pois mesmo sendo bichos de quatro patas, fazem parte da família e tratam-se como tal.

Cá em casa o lema é "Eles só nos têm a nós." e com essa frase vamos justificando tudo o que fazemos por eles. De facto, cada animal doméstico só pode contar com o dono que tem. É, por isso, lamentável ver certos donos que por aí existem e que adoptam animais sem consciência de que "ter" um animal não é levá-lo para casa e pronto. Ter um cão, um gato, um coelho, pássaros, répteis, o que seja, implica uma boa dose de trabalho, de empenho e de responsabilidade. É também, parece-me, óptimo para incutir em crianças precisamente as noções de respeito, de cuidado e de responsabilidade em relação a outros seres vivos. O que os animais nos dão em troca de um lar (na verdadeira acepção da palavra) é muito maior do que os euros que se gastam com eles. De facto, estes euros podem tornar-se uma parte importante do orçamento (principalmente quando adoecem) e há meses em que custa a pagá-los porque há outras despesas às quais é necessário dar resposta, mas isso tem de ser pensado antes de arranjarmos o animal. Assim como a questão das férias, quando existem animais domésticos, também tem de ser cogitada antes de trazer o peludo para casa. Isto para que depois não acabe a imperar a cobardia da atitude desprezível de abandonar um animal na beira da estrada. Ou ir largá-lo a outro sítio qualquer sem garantias de que se consiga safar, depois de um tempo em que viveu numa casa onde lhe aparecia comida e água fresca sem que tivesse de a procurar sozinho. Conheço casos assim e desprezo as pessoas que o fizeram ou que o fazem. Não tenho qualquer respeito por elas e julgo que quem o faz a um animal também o faz a um ser humano. 

Por isso, em época de férias, importa dizer que os pequenotes que escolhemos para partilharem uma parte da nossa vida connosco merecem tudo, tudo, tudo de bom que lhes possamos dar. Se não os podem levar convosco para férias, peçam a alguém que vos cuide deles. Em último caso, façam o sacrifício que fiz no ano passado: não fui de férias. Em parte por causa do bichano, que era ainda muito pequeno para ficar sozinho em casa, e em parte por outras razões. Fazer sacrifícios faz parte, principalmente quando a causa pela qual os fazemos vale tanto a pena quanto a companhia e o amor que um animal nos dá. Acredito que quem visita este blogue seja gente boa que respeita os animais, mas não custa passar a palavra sobre este assunto. Vemos tanta crueldade, tanto desprezo pela vida animal que falar nisto não é exagero, mas necessidade. 

2 comentários:

  1. Concordo plenamente contigo, gosto muito de gatos e até gostava de ter um, como já tive quando estava na casa dos meus pais. Mas sei que hoje em dia para ter um animal em boas condições teria de abdicar de coisas que não estou disposta a fazer, portanto acho preferível não ter do que não poder dar-lhe tudo que lhe faria falta. Tenho a certeza que os teus bichanos são uns sortudos... :) Eu tenho óptimas recordações dos meus, eram tão fofinhos e carinhosos, mesmo sendo gatos de quintal que andavam na vidinha deles o dia todo mas que vinham a correr quando ao fim do dia se chegava a casa e nos faziam uma grande festa.

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    1. Exactamente: é preciso pensar nas mudanças que um animal traz à nossa vida e perceber até que ponto aceitamos perder alguns dos nossos hábitos e rotinas de modo a garantir a companhia de um animal feliz. É uma decisão que exige muita ponderação, já que facilmente podemos agir por impulso e levar para casa um animal sem que estejamos de facto dispostos a adaptar a nossa vida à sua existência. Levo muito a sério esta ideia de que "Eles só nos têm a nós" (que o meu namorado repete sempre que me vê à beira de perder a paciência) e por isso vou fazendo tudo por eles: se assim não fosse, mais valia não os ter trazido para casa. Gostava muito que mais gente pensasse assim, que "Eles só nos têm a nós".

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