Cruzei-me com a capa do primeiro livro há uns dias e já era para ter vindo falar um pouco sobre ele. Vamos lá ver: não é que seja propriamente a coisa que mais quero ler na vida, mas parte de um pressuposto que defendo há muito tempo e isso interessa-me. Infelizmente, numa sociedade em que o trabalho volta a ganhar contornos de escravatura (salva a diferença real entre uma coisa e outra, claro), o descanso vai ficando para trás porque temos de ser sempre mais e mais produtivos. Temos de trabalhar a toda a hora, temos de estar sempre contactáveis, mesmo quando é tempo de dormir ou de estar a fazer o que nos apetece. Ficamos ansiosos porque a linha entre a vida privada e a linha profissional torna-se líquida e facilmente o trabalho entra nos nossos momentos que deveriam ser de folga. Falo do que sei porque passei por isso e tive de tomar uma decisão: ou o salário ou a normalidade de volta à minha vida. Bem sabem que optei pela segunda. Já antes o cria, mas agora ainda acredito mais que se as empresas querem que vistamos a sua camisola e que sejamos produtivos, não é amarrando-nos às paredes do local de trabalho que o vão conseguir. Nem é com e-mails e exigências fora de horas que vão ter funcionários motivados e com vontade de dar o seu melhor. Pelo contrário: acredito que mais descanso e, sobretudo, mais consideração pelo nosso espaço privado e pelos momentos de lazer far-nos-ia querer dar o nosso melhor nas horas de trabalho. Por isso, tenho curiosidade para ver como foi isto tratado neste livro.
Quero o segundo, de Max Aub, porque além de gostar do autor, li numa crítica ao livro que teve como inspiração o «Colóquio de los Perros», uma das Novelas Exemplares, de Cervantes. Nesse conto, dois cães conversam e esse diálogo mostra em toda a sua falta de esplendor os defeitos que marcavam a sociedade espanhola do século XVII. Aqui, com esta novidade da Antígona, é um corvo que, olhando de cima um campo de concentração, analisa o Homem. Ora, tendo em conta o lugar onde está, o que vê não pode ser bom, mas é, infelizmente, o real, ainda que o narrador seja tão sui generis como um corvo. Curiosamente, este animal de tão mau agouro olha para o que uns seres humanos fazem a outros seres humanos e consegue mostrar maior sensatez nos seus pensamentos do que os homens nas suas acções. Parece-me, por tudo isto, ser um livro a não perder.
A menina quer estes dois. A menina quer sempre alguma coisa.
O primeiro desconhecia.
ResponderEliminarO segundo está na lista, gostei de "Crimes Exemplares", um pequeno livro ilustrado onde se contam crimes hediondos e outros com algum humor.
Ao ler a sinopse pensei em Tobermory, o gato de Saki, que ao ser ensinado a falar aprende muito sobre a vida dos humanos e por isso mesmo tem muito a dizer. O tema é diferente, claro. Campo de concentração vs alta sociedade inglesa.
Saki, tal como P.G. Wodehouse era bastante divertido e satírico no que escrevia. A diferença é que Saki punha o dedo na ferida, como no caso do conto que referi acima.
Agradeço-vos. Não conhecia estes livros.
ResponderEliminarE nem Saki ou Wodehouse. Estamos sempre a aprender.