Hoje os meios de comunicação social têm estado a divulgar este vídeo e a história que o explica: na reunião de professores de uma escola do Luisiana, uma docente questiona o aumento de salário do director do estabelecimento de ensino. Conforme explica, os professores e restante pessoal (auxiliares, funcionários da cantina, entre outros) não são aumentados há muitos anos e esta subida de 32 000 dólares anuais do salário do director custa a compreender perante tal cenário. A docente explica que o trabalho dos docentes é exigente, que lidam com muitos alunos por turma e faz ver o seu ponto de vista de uma forma assertiva, mas educada.
O que se segue é digno de um mundo paralelo onde reina a loucura: a professora é detida, deitada ao chão por um polícia, algemada e levada da escola. A razão? Aparentemente ter questionado a razão do aumento salarial do director do estabelecimento. Apenas isso.
Confesso que ao ver as imagens fiquei boquiaberta. Ainda assim, ao fim de alguns segundos fez-se luz na minha cabeça e a memória trouxe-me aquilo de que precisava para perceber que inevitavelmente este dia chegaria. A loucura que acontece no mundo laboral acabaria por trazer-nos a este paroxismo de desrespeito pelas liberdades básicas de cada um. Bastou-me recordar como a palavra da administração de um colégio privado é lei, mesmo que essa palavra seja absurda e vá contra tudo o que é viável e aceitável num contexto educativo, para perceber que estávamos há muito tempo com um pezinho nesta loucura. Nunca vi nenhum professor ser retirado assim de uma sala por colocar uma questão, mas vi professores impedidos pela polícia de entrarem no seu local de trabalho sem se perceber bem porquê. Vi pessoas vigiadas e impedidas de falar enquanto arrumavam os seus objectos depois de serem convidadas a abandonar o recinto escolar. Enfim... Vi superiores hierárquicos ofenderem e ameaçarem sistematicamente os seus funcionários, tratando uns de uma forma e outros abaixo de cão apenas devido à empatia sentida por uns e não por outros. O profissionalismo, em muitos estabelecimentos de ensino, não interessa e não garante uma vida profissional tranquila. Do que conheço, o contrário até é mais comum: quem não alinha na loucura está constantemente num equilíbrio instável que não mata mas mói.
Chegámos a um ponto em que os docentes, além de terem de preocupar-se com o seu trabalho, com turmas incrivelmente grandes, com a crítica que a sociedade lhes faz por maus resultados escolares, com os pais que têm um entendimento da escola muito diferente do que seria saudável e aceitável, têm também de preocupar-se em sobreviver aos mandos e desmandos dos superiores hierárquicos. Os professores sentem-se terrivelmente desprotegidos, mesmo quando sindicalizados. É muito difícil provar muito do que acontece dentro de quatro paredes e assim se vai dando cabo da saúde mental de muitos funcionários que, como eu, preferem sair mentalmente bem em vez de aguentar porque o salário dá jeito e acabar por bater no fundo.
O caso desta professora norte-americana é abominável e espero que os responsáveis paguem pelo que fizeram. Mas além dela, muitos outros, professores ou não, são diariamente maltratados nos seus locais de trabalho. Ou porque falam, ou porque calam, ou porque simplesmente não caíram nas graças dos seus superiores, muitos sofrem hoje nos locais onde passam a maior parte das horas do dia. O mundo laboral é difícil e feito de muito silêncio e de muito sofrimento. Era tão importante que se pensasse sobre isso. Não é só o valor dos salários que importa, ainda que importe muito: as condições que nos são proporcionadas são também de uma importância vital. Basta pensar que passaremos dezenas de anos da nossa vida a trabalhar e que se esse tempo for uma verdadeira tortura, como tantas vezes sucede, então grande parte da nossa existência será marcada pela infelicidade e todos sabemos que é muito difícil deixar completamente o trabalho fora de casa... Era, por isso, importante que situações de assédio laboral ou de discriminação fossem combatidas com maior vigor e eficácia. A saúde mental da população agradeceria.
Disse tudo. Gostei tanto do seu texto que tomei a liberdade de o partilhar no facebook. Vou também enviar a algumas colegas que não têm facebook.
ResponderEliminarObrigada. Quando se vivem certas coisas na pele, percebemos melhor a doidice que vai pelo mundo.
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