Temos cá em casa três electrodomésticos que nos perseguem até começarmos a arrancar cabelos de tanta raiva que a coisa provoca: a máquina de lavar roupa, o microondas e a fritadeira Actifry. Mas antes que comecem a imaginar que acordo com o microondas a olhar para mim ou que a máquina de lavar anda atrás de nós pela casa, coisas que dariam belos filmes de terror para serem passados nas salas de cinema do Colombo, já que estão sempre cheias de adolescentes que engolem qualquer guião ridículo deste que lhes digam que é de «terror», eu explico-vos de modo eles nos perseguem.
A máquina de lavar a roupa apita quando acaba. E apita, e apita, e apita, e apita... até ser desligada. Só que por vezes não podemos ir logo acudi-la, então ela fica naquela tortura sonora, a lembrar ao mundo que existe, enquanto eu lhe chamo vários nomes feios. O microondas faz exactamente o mesmo: apita quando acaba o seu serviço e fá-lo até que abramos a porta. O que nem sempre acontece logo, também. Aliás, não conheço muita gente que se plante à frente do microondas à espera que ele acabe de aquecer comida. Geralmente, vamos fazendo outras coisas. Pois ele chama-nos. Mas chama-nos muito! E até faz mais: se for programado para descongelar, pára ao fim de um ou dois minutos e apita, apita, apita para irmos ver se ele está a cumprir bem a sua função. Temos de ir lá, abrir a porta e voltar a fechar, em jeito de «muito bem, microondas, estás a fazer tudo lindamente!», para o bicho voltar ao trabalho. Nunca pensei que viesse a experimentar o reforço positivo com um electrodoméstico, mas aquele apito domina-nos a vontade e dá-nos cabo dos nervos.
Por fim, a fritadeira Actifry. Bom, essa é simplesmente maluca. Apita quando acaba, mas não pára de trabalhar. Ou seja: quando ela apita temos de ir a correr antes que ela carbonize o que lá está dentro. E às vezes, mesmo depois de desligada, volta a apitar. Com aquela não dá para perceber a lógica. Só acho que seria um ponto de partida excelente para o Stephen King escrever mais um bestseller: «A Fritadeira Satânica», ou «A pilha de batatas fritas assassinas», ou ainda «O apito da morte sem cheiro a fritos». Enfim, o céu é o limite.
Dito isto, eu até percebo a utilidade dos apitos nos electrodomésticos. Facilmente nos esquecemos de desligar a máquina da roupa quando acaba. Também acontece aquecermos qualquer coisa e esquecermo-nos dela dentro do microondas até que volta a ficar tudo frio e temos de gastar electricidade novamente no reaquecimento. Mas um apito ou dois bastariam. Não é preciso sentirmos que estamos a ser vítimas de um stalker ligado à corrente! Nunca poderei pôr a máquina da roupa a lavar de noite porque já sei que vou acordar toda a gente quando ela acabar o seu trabalho. Somos verdadeiras vítimas das máquinas que nos facilitam a vida. É este o preço a pagar pela modernidade: apitos e mais apitos.
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