Andava a ler dois livros que não estavam a deixar-me lá muito contente. Um deles era um thriller que recorria muito à velha técnica do «enchimento do chouriço». Primeiro que acontecesse alguma coisa, era preciso virar muitas páginas. A ânsia do autor de fazer render o peixe deve ter sido tanta que descreveu tudo e mais alguma coisa e deu a conhecer longos pensamentos de personagens em momentos que não eram mais que fracções de segundo. Lá se vai a verosimilhança. E lá se fecha o livro. Desisto.
Estava também a ler um do Erico Veríssimo que até era interessante. Consistia numa espécie de diário escrito durante a estadia na California para ensinar na Universidade. E se muito do que ele diz é interessante, muito também está datado e não me permitiu estabelecer propriamente uma relação com o livro. Ainda assim li mais de duzentas páginas. Contudo, depois, começou aquela sensação que me diz que a vida é muito curta para andar a ler um livro que não me aquece nem arrefece só com o intuito de o terminar, sabendo que há por aí mais e melhor à minha espera. A culpa não é do autor, mas do tempo que passou entre a sua experiência narrada e a minha existência. Fechei o livro, devolvi-o à estante. Desisti.
Tendo deixado os dois livros que andava a ler, resolvi procurar qualidade inegável para não haver motivos para não ler até ao fim o próximo livro. E eis que cheguei a Saramago e a um dos seus romances que ainda não li: O Ano da Morte de Ricardo Reis. Por coincidência, este livro começa este ano a ser estudado nas escolas. Tenho muita pena de que durante dois anos substitua o Memorial nas aulas de Português. Mas pronto, alguém lucrará com a mudança. Comecei a lê-lo ontem e... bem, Saramago é um génio por isso tem tudo para correr bem.
demasiado pouco tempo para livros que não nos prendem. nunca me aventurei em thrillers, e não sei se algum dia o farei...
ResponderEliminarde Saramago só li o memorial, há quase 11 anos. não fiquei fã, mas tinha 16/17 anos e já me disseram que não é o melhor dele. que me recomendas?
Também não costumo muito ler thrillers ou policiais, mas no Verão, em Madrid, o meu moço comprou o «El Psicoanalista» e foi daqueles livros que não consegui pousar até terminar. Foi bom por ser hipnotizante, mas sem ser daqueles livros que nos fazem pensar. Bom para o Verão, portanto. Resultado: agora ia tentar outro do mesmo autor, mas era francamente mau.
EliminarEu tentei ler o Memorial aí pelos 12 anos (louca). Não resultou. Li-o mais tarde e adorei. É um daqueles livros que deixa uma pessoa a pensar que não pode ter sido um ser humano a escrever aquilo. Aliás, já tive essa sensação com outros livros do autor. Porém, aquele que considero mais tocante, mais bonito, mais desconcertante é o «Todos os Nomes». É o meu favorito dele e resulta de um facto verídico da vida de Saramago: a morte, na infância, de um irmão mais velho que tinha e a busca de informações sobre a sua morte. É um livro maravilhoso, um dos poucos livros que li, reli e voltei a reler. E voltarei a lê-lo ainda mais vezes nesta vida porque, de facto, o que nos diz é muito, muito tocante. Experimenta ler o «Todos os Nomes». Pode ser que te rendas ao génio do nosso mais recente génio. ;)
Ah, é triste quando um autor depois desilude assim! :/
EliminarEstou fascinada, nunca tinha ouvido falar nesse. As pessoas que conheço que gostam de Saramago e a quem peço opiniões falam ou no Ensaio sobre a Cegueira, ou no do Ricardo Reis que estás a ler. Estou muito curiosa, agora! Hei de o procurar - possivelmente mais para o fim do ano, quando voltar definitivamente a Lisboa (ainda cá estou, mas em countdown de pessoa que não tem mala e ainda não levou o carro à inspecção)
Ahahah! Não te preocupes: o pânico de última hora resolve tudo. E pede o Todos os Nomes pelo Natal. Assim quando voltares eles estará no sapatinho. :)
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