Quando alguém toca à porta de alguém que conhece, à pergunta «Quem é?» responde normalmente com um muito elucidativo «Sou eu!». Ora, o problema é que «eu» somos todos e, portanto, a boa da resposta que abre tantas portas, na realidade, não devia servir para abrir porta nenhuma. Mas embora já todos tenhamos pensado nisto alguma vez na vida, a verdade é que quando tocamos à porta dos nossos pais ou dos nossos irmãos não respondemos com o nosso nome, nem com o nosso número de informação fiscal, nem com uma senha previamente combinada por motivos de segurança. Nada disso. Vem sempre de lá o pronome pessoal tónico de nominativo na primeira pessoa. Uma seca!
Hoje fui a casa dos meus pais e pus-me a pensar nisto. Cheguei à conclusão de que realmente o que nos abre a porta é o nosso tom de voz, reconhecido através do intercomunicador. Portanto, em vez de dizer «Sou eu!», poderia cantarolar uma música do Quim Barreiros ou dizer uma oração que a porta deveria abrir-se na mesma. Se a coisa funciona verdadeiramente por comando de voz, então até podia ler um poema ou o rótulo da caixa dos cereais, que a minha mãe abrir-me-ia a porta na mesma. Ou então não e eu ficaria na rua porque ela consideraria que a doida a cantar o «Vira Minhoto» junto à porta do prédio nunca poderia ser a sua respeitável filha. Mas ela que fique sabendo que sempre é mais seguro descobrir que sou eu assim, do que através de um mísero pronome que, ao fim e ao cabo, se aplica a todos os seres humanos do planeta Terra. E convenhamos que também tinha muito mais graça.
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