Se há coisa que me deixa à beira da loucura é ir ao centro comercial e ter pela frente aquilo que chamo um «pastor do shopping». E o que é isso? São pessoas que andam tão lentamente, mas tão lentamente que nos colocam a dúvida de estarmos no Colombo ou na procissão do Senhor dos Passos. Há pessoas que vão para o centro comercial ver as vistas como fariam numa caminhada à beira-mar. E os desgraçados que vão atrás e que sabem bem para onde querem ir têm de abrandar a marcha para não varrer estes pastores desprovidos de gado.
O problema aumenta quando acontece em lugares estreitos ou com muita gente e onde não podemos desviar-nos destes caracóis do comércio. Imaginem: saem do cinema, querem ir jantar e levam mais de meia hora para chegar ao restaurante porque ali na zona há gente que anda tão devagar que têm de olhar com muita atenção para ver se estão realmente a mexer-se.
Por isso, pastores do shopping, deixo a seguinte sugestão: se, qual Caeiro ou Cesário, aquilo de que gostam mesmo é de deambulações, façam como os poetas e vão até ao campo (ignorem a veia citadina do Cesário, que era muito dada à fealdade), arranjem um rebanho a sério e ponham-no a pastar. Aproveitem e caminhem atrás da ovelha mais velha e manca que tiverem, olhando à esquerda e à direita, olhando as árvores e as ervinhas, desfrutando da paisagem bucólica que vos rodeia. Se quiserem, podem imaginar que estão diante da Zara a olhar para a última sandaloca feia da moda ou que estão diante da loja da Apple a namorar iPhones e iPads, não me interessa, o rebanho é vosso. Mas deixem os caminhos dos centros comerciais desimpedidos para quem não tem como objectivo de vida a deambulação em catedrais do consumo.
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