sábado, 19 de agosto de 2017

Peculiaridades de um leitor XI


Há alguns anos passei pela situação descrita acima e pensei que só eu é que sentia aquilo. Na altura fiquei mesmo preocupada porque não percebia como poderia ser possível alguém que lia tanto ver-se, de repente, incapaz de ler. Na verdade, era como se não conseguisse concentrar-me para ler, por pouco tempo que fosse. Pegava num livro e nada. Não sentia nada e, mesmo quando me esforçava para conseguir concentrar-me, era impossível e acabava por distrair-me. Somava-se a isso a culpa por continuar a comprar livros, embora fosse difícil ler mais do que uma página. 

Um dia li num blogue a descrição que alguém fazia do mesmo problema. A autora estava a atravessar a mesma fase de bloqueio que eu vivera antes. Foi aí que percebi que é algo que acontece. É chato, mas acontece. É como se de repente um hábito nosso se tornasse estranho para nós mesmos. Parece que há duas partes do cérebro em conflito: aquela que sabe que adoramos ler e conhecer novas histórias através dos livros e a outra, a que, subitamente, é incapaz de fixar uma página por mais de cinco segundos sem desatar a pensar noutras coisas.

Ando novamente numa fase destas. Não tão grave como noutros tempos porque está a acontecer apenas com livros. Continuo a ler revistas e, mesmo não estando concentrada como seria de esperar, pelo menos estou a ler. E tenho tantas em atraso que bem posso dedicar-me aos periódicos. Mas com os livros a coisa está meio parada. Parece mesmo que só quero é ver o livro acabado, ainda que não me esteja a apetecer muito viver o processo necessário para chegar ao fim. É estúpido, mas é mesmo tal e qual o que está descrito na imagem. Encontrei-a no Facebook há uns tempos e, somando-a à minha experiência e à da blogger que li e de que já falei, sou levada a crer que isto não é assim tão raro. 

Noutros tempos atribuí a culpa ao cansaço. Agora não tenho nada que culpar. Simplesmente o meu cérebro não está com vontade de dedicar-se com afinco a um livro. Parece que olha para ele e acha-o muito grande e muito cansativo ainda antes de pegar-lhe. É um cérebro leitor que mostra a sua vontade de parar um bocado, de olhar para outras coisas, de passear em vez de ler; de ir à praia em vez de ficar a ler; de estar a olhar para ontem em vez de prestar atenção às páginas de um livro. Isto acaba por passar, claro. Acho que o calor também não ajuda. Mas esta é mais uma das nossas peculiaridades. Adoramos os livros, adoramos ler, mas por vezes até este amor tem de ficar pendente porque não se consegue concretizar com a qualidade a que estamos habituados. Há males maiores, por isso pode conviver-se com este durante uns tempos. Ainda assim não posso deixar de pensar que tenho tanto para ler e que assim estou a perder tempo... 

Portanto, verão ali durante uns tempos os mesmos livros nas leituras que presentemente faço. Vou aproveitar a fase para dedicar-me às revistas já que parece que o meu cérebro está cansado de ficção, mas não de reportagens e de entrevistas. Espero, no entanto, que esta «peculiaridade» não dure muito tempo porque a biblioteca está sempre à espreita.

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